tag:blogger.com,1999:blog-10439564597475547052024-02-08T02:14:48.835-03:00One With The WavesGuilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.comBlogger112125tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-11442708173385034002020-10-29T22:32:00.001-03:002020-10-29T22:32:14.814-03:00O PUB<p><span style="text-align: justify;">Crianças fantasiadas de toda a
sorte de monstros andam pelas ruas decoradas com as mais variadas
monstruosidades concebidas em plástico, isopor e papel higiênico. Era a noite
mais aguardada do ano para Caio e Marcelo. Finalmente estavam nos EUA e conheceriam
a mais famosa festividade de lá: o halloween. Mas eles não eram duas crianças
deslumbradas, eram dois marmanjos de 30 anos em férias da empresa que
resolveram viajar juntos. Planejaram todos os detalhes durante o ano anterior,
deixaram de beber durante longos seis meses para poderem tomar um porre
assustador em terras estrangeiras.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os amigos haviam chegado a uns
dois dias e já foram fazer um reconhecimento da pequena cidade toda decorada.
Ficaram um tanto quanto desapontados ao perceber que tudo era muito simples,
que o ar de mistério e incrível decoração dependia mais do ângulo escolhido
pelo fotógrafo do que pela criatividade dos moradores. Mas isso não os
desanimou. Foram procurar um dos famosos pubs para passar o dia 31 de Outubro
bebendo em meio a outros tantos marmanjos que, provavelmente, estariam
fantasiados e levariam algumas garotas. Trinta anos nas costas e com a ideia de
que tudo seria como nos seriados e filmes que assistiam na adolescência.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O pub mais famoso da cidade,
localizado em uma esquina em frente a uma pequena praça, estava fechado naquele
dia, mas havia um grande cartaz colado na porta que convocava todos para os
festejos de halloween, a fantasia, que começariam à meia-noite e terminaria às
onze e cinquenta e nove do dia 31. Os amigos ficaram mais animados ainda ao
lerem que haveria uma rodada grátis de chope para todos logo nos primeiros
momentos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Finalmente o dia chegou! Ainda
nem eram dez horas da noite e ambos já estavam com suas fantasias postas: Caio
era uma múmia de papel higiênico e Marcelo um fantasma de lençol. Nada
criativos e ainda bem que não era uma competição! Saíram do hotel e foram dar
uma volta pela cidadezinha e observar as decorações novamente, já que agora as
veriam todas iluminadas. Se sentiram um pouco menos desapontados ao perceberem
que as luzes ajudavam a criar um clima mais glorioso aos fantasmas de papel e
às abóboras de plástico vagabundo. Enquanto andavam, perceberam um ou outro
vulto passeando entre as decorações. Imaginaram ser algumas crianças que não
aguentariam esperar até a noite seguinte para assustar dois turistas
desavisados, ou estariam os bobalhões realmente com medo? Resolveram deixar
aquela rua deserta para lá e irem logo aguardar o pub abrir. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ao chegarem ao pub, perceberam
que já havia uma longa fila de espera. Uma fila formada por múmias envoltas em
tiras de papel higiênico, demônios vermelhos de tinta guache, lobisomens que
não precisavam colar pelos em seus próprios corpos por já os possuírem em
demasia, vampiros saídos de um sex shop e até mesmo por um Thanos magricela e
um Coringa muito acima do peso. Apesar do desleixo, as fantasias de Caio e
Marcelo ainda eram melhores que muitas dali. O que desanimou os amigos foi a
falta de mulheres. Será que nenhuma viria? Ou será que as garotas só aparecem
mais tarde para evitar assédio na fila? Não importava! Desde que viessem!
Enquanto a dúvida permeava as mentes pervertidas, os dois maltrapilhos se
posicionaram atrás de um projeto de Crocodilo Dundee. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As portas finalmente se abriram e
a fila andou. O pub era apertado e estava lotado de homens mal fantasiados.
Ainda bem que não era no Brasil, senão o calor faria daquele o lugar mais
insuportável para se estar. Conseguiram arrumar lugar para se sentarem em
frente ao balcão e logo um bartender fantasiado como o Senhor das Trevas do
filme A Lenda, de 1985, depositou uma enorme caneca em forma de crânio repleta
de chope avermelhado para eles. A fantasia era incrivelmente realista! Ficaram
imaginando o pobre bartender sendo maquiado por horas para obter aquele
resultado fantástico. Beberam o primeiro gole de chope e ficaram espantados em
como era saboroso e refrescante! Não tinha gosto de corante ou de groselha como
nos barzinhos metidos a chique do Brasil, mas sim um sabor leve e completamente
diferente dos chopes brasileiros. Beberam com afã aquela maravilha e logo
esvaziaram a “crâneca” (a criatividade deles estava a mil de tão empolgados que
estavam). Queriam mais, mas por incrível que pareça, não conseguiam localizar o
“capirotão”. Cada um olhou para um lado e, ao voltarem a cabeça para frente
novamente, encontram suas crânecas cheíssimas novamente. E nada do capirotão. Resolveram
não pensar na esquisitice da situação e resolveram beber com um pouco mais de
calma, afinal, ainda havia mais um dia inteiro de festa pela frente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Já eram mais de duas da madrugada
e nenhuma mulher havia chegado ao pub. Ficaram encanados de ser um pub voltado
ao público gay, mas ninguém estava se pegando, não tocava nenhuma música mais
sugestiva e o pessoal estava até controlado demais para duas horas de
bebedeira. Tudo estava normal demais, exceto pela ausência de mulheres. Não
havia nenhum anúncio de que aquele era um pub na qual só poderiam entrar
homens. Onde estariam todas as garotas? Logo a dúvida foi deixada de lado, pois
uma finalmente se sentou ao lado de Marcelo! Estava fantasiada como Diabolin,
do desenho Cavalo de Fogo. A fantasia era incrível por duas questões: era muito
bem feita e quem diabos se lembrava desse desenho fracassado?!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A Diabolin em questão era uma
mulher que aparentava ter uns 40 anos e uma aparência realmente similar à do
desenho de 1986. Marcelo imaginou que, por ela conhecer esse desenho, talvez
reconheceria o bordão que utilizaria para abordá-la e mandou um “How you
doing?” com sua expressão sedutora mais canastrona possível. Sem resposta. Ela
sequer olhou. Imaginou que não fosse americana e tentou cumprimenta-la em
português. Nada. Francês? Tão pouco. Procurou no celular como cumprimentar uma
mulher em Alemão. Falhou. Apesar dela não ter nenhum traço asiático, tentou
japonês, chinês, indiano. Desistiu. Achou que já estava sendo inconveniente
demais àquela altura do campeonato. Resolveu sentar virado para a área na qual
as pessoas estavam em pé no pub e ficar comentando com o Caio sobre os figurões
que lá estavam. Deu uma última olhada e a mulher misteriosa já não estava mais
lá. Já não estava mais em lugar algum. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Depois de três crânecas de chope
vermelho, Caio foi ao banheiro pela primeira vez. Estava muito apertado. Havia
apenas um mictório e uma cabine no banheiro. O mictório estava quebrado e a
cabine ocupada, com o Crocodilo Dundee e um lobisomem aguardando a sua frente.
O peludão aparentava estar sem paciência e resmungou algo sobre estarem
demorando muito lá dentro e bateu com força na porta, avisando que havia mais
gente querendo usar o banheiro. Silêncio. Ele e Dundee trocaram olhares e o
lobisomem sentou o pé na porta da cabina, derrubando-a e logo saltando para trás
assustado. Do assento do vaso sanitário até próximo aos limites das paredes de
madeira da cabine havia sangue e pequenos pedaços de carne grudados. O susto
foi tanto que o exageradamente provido de pelos esqueceu de continuar contendo
sua urina e a despejou em sua calça branca, deixando-a rubra. Caio recuou ao
ver o líquido vermelho escorrer pelas canelas do homem, pois não tinha como a
bebida deixar a urina daquela cor, tampouco com aquela espessura. O homem
estava urinando sangue sem parar e estava em desespero por isso! Apoiou o braço
esquerdo esticado na parede e olhou para baixo arfando enquanto via a poça
crescer cada vez mais ao redor de seus pés. O outro homem urinou normalmente no
vaso ensanguentado, lavou as mãos e saiu como se nada estivesse acontecendo.
Caio estava acuado na parede ao lado da porta do banheiro, urinado, tremendo e
paralisado com aquela cena toda. Após alguns instantes, o lobisomem esbaforiu mais
alguns momentos e desmaiou, batendo a cabeça na parede e logo em seguida caindo
na própria poça de sangue. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Caio saiu do banheiro alarmado,
molhado e tremendo, querendo sair dali o mais rápido possível. Mas logo viu que
seria impossível. Não havia mais ninguém no salão a não ser uma pilha disforme
composta de pedaços humanos coloridos ou enrolados em papel higiênico manchado
de vermelho. Ao lado, o senhor das trevas segurava um inquieto e desesperado
Marcelo pelo pescoço e o erguia até acima de sua cabeça, quase mais alto até
que seus chifres. Riu de satisfação e apertou sua poderosa mão até despedaçar o
pescoço de Marcelo. Jogou o corpo um pouco para cima e o atravessou com seu braço.
Aquela criatura era tão poderosa que Caio apenas ficou parado; sabia que não
teria nenhuma chance. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O monstro jogou o corpo de
Marcelo junto ao monte de tantos outros e saiu. Em seguida, pequenos vultos
correram do banheiro em direção a pilha sangrenta e se revelaram pequenos seres
semelhantes a bebês humanos. Havia meia dúzia deles. Um pegou um braço
decepado, abriu uma enorme bocarra com dentes serrilhados e o devorou com duas
mordidas rápidas. Logo todos fizeram o mesmo. A pilha acabou em menos de cinco
minutos e lamberam o que sobrou com suas enormes línguas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Caio não sabia a razão de ter
sido poupado. Será que não o viram? Talvez ele não fosse muito saboroso. Ou
talvez a urina incomodasse. Ou talvez... bom, ele não precisava mais se
preocupar. Em sua frente estava Diabolin, perfurando sua barriga com um punhal.
O olhar fixo em seus olhos. As últimas imagens vislumbradas por Caio foram da
enorme boca com dentes serrilhados se aproximando de seu rosto. <o:p></o:p></p>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-4836727762410546532020-10-09T17:22:00.002-03:002020-10-09T17:22:42.242-03:00Pássaros e o Abismo<p><span style="text-align: justify;">O profundo abismo finalmente se
abriu aos pés do pequeno pardal. Como sabia que não deveria explorar por conta
própria, sentou-se na beirada e observou a escuridão infinita que se
aprofundava; pensava que seria impossível alguém olhar para aquilo e ainda assim
resolver pular sem ao menos uma lanterna em direção ao desconhecido.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Pouco tempo se passou e algumas poucas
e corajosas ararinhas mergulharam munidas de pequenas velas e iluminaram
trechos do que se revelou um grande paredão sangrento e fétido. A luz é pouca,
mas o suficiente para revelar que o salto para o abismo ali, naquele momento,
ainda era arriscado demais. As poucas vozes, tão fracas quanto as anêmicas
chamas das minúsculas velas, gritam desesperadas para que não saltem! O risco
de passar pelo paredão coagulado e imergir no breu eterno ainda é desconhecido.
<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Momentos após os primeiros e
parcos alarmes, saíram das profundezas alguns poucos corvos a crocitar que o
caminho era seguro. Saiam se arrastando, limpando de suas joias e roupas as
bolhas rubras encrostadas, mas minando uma nascente vermelha de suas penas
melasmáticas. Os corvos crocitavam mais alto a medida que saiam do abismo, mas
deixavam um rastro cada vez maior de pútridos nacos avermelhados e fortaleciam
a correnteza escarlate, que arrastava alguns pequenos joões-de-barro que, ao
contrário dos corvos, quase nunca retornavam.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Do abismo começaram a emanar
gritos de desespero; as lamúrias das gaivotas responsáveis pelo resgate
daqueles que se prenderam ao paredão, levados através da correnteza vermelha,
em busca apenas de proteção para que suas penas também não grudem na pegajosa
gosma pútrida que o reveste. Em vão. Uma a uma as gaivotas tiveram em suas
penas revestidas, levando-as a tombar no breu eterno. Revoadas se fizeram em
sua homenagem.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A beira do precipício, gaviões
faziam barricadas, cada uma do seu próprio jeito. Uns usavam toras imensas para
impedir que os demais fossem arrastados; outros apenas alguns galhos secos e
frágeis, cobertos por uma grossa cortina escura. Com o tempo, as grandes toras
foram bicadas por gordos abutres que não podiam mais continuar sem encher suas
enormes panças com quantidades tão limitadas de pequenas almas. Grandes buracos
foram abertos nas toras, reduzindo-as apenas a um enfeite macabro para
ornamentar o salto na escuridão. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Enfim o grande urubu se fez ouvir
novamente. Crocitava impropérios, induzindo dezenas de papagaios a repetirem
suas ordens contra os gaviões aos demais, afim de que qualquer barreira ao
abismo fosse retirada. Tinha o rosto pintado de branco, pois se achava uma
imponente e astuta águia, apesar de se atrapalhar até mesmo para comer a
carniça deixada pelas raposas. Ele próprio alimentava a correnteza, agora
pútrida, que arrastava todos a seu destino. Mas a pintura impressionava aos
ignorantes, principalmente aos que clamavam por uma águia imponente no comando
de tudo. Pobres tolos. Todos estavam convencidos de que deveriam aceitar seu
destino e às margens de um abismo fétido e obscuro. Apenas o pequeno pardal e
algumas ararinhas munidas de pequenas velas ainda se preocupam. Lágrimas rolam
por seus bicos. Suas vozes são encobertas pelo som da cachoeira bordô. O abismo
agradece.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />P.S.: Até quando urubus se fingindo de águias nos dirão o que fazer?</p>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-67230399862970674942020-08-22T15:59:00.001-03:002020-08-22T15:59:20.176-03:00Guardião<p> <span style="text-align: justify;">Muito antes de qualquer
explorador desembarcar naquelas terras verdes e ricas, uma pequena tribo
usufruía de sua diversidade. Viviam em relativa paz e abundância, uma vez que a
corrupção ainda não havia chegado de longínquas culturas desgastadas pela ganância
e o poder.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A tribo, localizada em meio à
floresta densa, era composta por um grande ancião como conselheiro, o homem
mais forte como líder e algumas famílias que eram responsáveis pela manutenção
de toda a tribo, fazendo serviços de plantio, caça, pequenos consertos em suas
moradias e o que mais fosse preciso. O ancião possuía uma idade avançada em
suas costas, mas a jovialidade em seu espírito: Era brincalhão com as crianças,
cordial com as mulheres e não perdia a chance de pregar uma peça nos homens carrancudos
da tribo, mas sempre estava ciente de sua responsabilidade como conselheiro e
colocava o bem estar de todos acima de qualquer ação a ser tomada. Gostava,
também, de se embrenhar na mata para conhecer melhor as plantas e os animais
que por ali encontrava. Possuía um grande acervo de plantas em sua moradia, da
qual havia testado para diversas finalidades, descobrindo suas propriedades
alimentícias, medicamentosas ou até mesmo as tóxicas, que eram usadas na caça. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em uma manhã ensolarada, o ancião
se embrenhou na mata mais uma vez para procurar algumas plantas e foi até o
ponto mais distante da tribo, no local que sempre as encontrava. Caminhou por
alguns minutos e ficou surpreso ao ver uma nova tribo se estabelecendo.
Escondeu-se e observou atentamente àquelas pessoas. Percebeu uma certa
truculência no modo como se tratavam e no modo como se estabeleciam, pois
abriram um espaço muito grande para o tamanho da tribo que estava ali e,
aparentemente, continuariam a abrir espaço mata a dentro, inclusive abatendo
alguns animais que não eram comuns para alimentação. <br />
Observou por algumas horas e resolveu voltar. Pensou em como faria para não
deixar marcas que levariam aquela tribo agressiva de encontro a sua e
lembrou-se de uma brincadeira que fazia com seus irmãos mais novos para que não
o seguissem em suas explorações: andava de costas e deixava pegadas que não
levavam a lugar algum. E assim o fez, deixando rastros que levavam de um ponto
aleatório a outro, o que confundiria quem os percebessem. Como era um grande
pregador de peças, deixou algumas pequenas armadilhas no caminho para garantir
um pouco mais de confusão e se divertir imaginando como aqueles grosseirões
sairiam delas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O ancião repetiu suas observações
por mais alguns dias, sempre deixando suas confusas trilhas e armadilhas
engraçadinhas para trás. Enquanto caminhava, de costas, de volta para sua
tribo, esbarrou em algo que não era duro e nem alto o suficiente para ser uma
árvore. Havia esbarrado em um dos guerreiros da nova tribo. Não conseguiu juntar
forças para correr e foi capturado e levado e colocado de joelhos diante do
líder daqueles homens: um homem robusto, de grande estatura e face assustadora.
Ouviu a comunicação entre soldado e líder, mas não conseguia compreender aquela
linguagem, só que, provavelmente, não o libertariam tão facilmente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O líder se calou e o soldado
levantou o ancião e o levou até outra moradia, colocando-o deitado em uma grande
pedra e chamando outros soldados para que segurassem os braços e pernas do
ancião. O soldado então pegou com as duas mãos uma pedra com formato quase
esférico e caminhou em direção às pernas do idoso, que fechou os olhos, já
imaginando a grande dor que o afligiria a seguir. O soldado ergueu a pedra
acima da própria cabeça e a desceu com toda sua força na canela esquerda do
ancião, que gritou em agonia e desespero, tentando se desvencilhar dos outros
soldados, mas em vão. Antes mesmo de se recuperar do primeiro golpe, recebeu
outro na mesma canela, a qual não mais
sentiu o próprio pé. O próximo golpe, na canela direita, o fez perder os
sentidos com excruciante dor. Conseguiu abrir os olhos por alguns instantes,
mas os lampejos de dor o impediam de recobrar a consciência por completo.
Apenas reparou que estava sozinho na habitação.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Abriu os olhos novamente por
alguns segundos e teve a impressão de ver uma jovem mulher flutuar acima de si.
Não conseguiu focar a visão por estar exausto de tanto sofrimento e perdeu os
sentidos novamente. Conseguiu uma última vez abrir os olhos e, mesmo exausto,
levantou seu tronco e olhou em direção a seus pés e os viu encaixados em suas
canelas, mas virados para trás, como uma vingança por suas brincadeiras. Quase
perdendo os sentidos novamente, ouviu uma doce voz feminina que dizia “me
proteja” e desmaiou uma última vez mas, agora, não perdeu totalmente os
sentidos e foi se sentindo revigorado, como se rejuvenescesse a cada segundo!
Seu corpo se fortalecia como nos tempos da juventude, sentia seu cabelo
crescer, sua pele esticar e seus pés se grudarem novamente às pernas. Logo
abriu os olhos e se levantou rapidamente, sem esforço algum. Olhou para baixo e
percebeu que seu corpo estava menor, mas forte, sem sinal da passagem do tempo
e seus pés estavam novamente em suas pernas, mas apontados para trás! Estava
confuso, mas não pensou muito e correu floresta a dentro, em direção a sua
tribo.<o:p></o:p></p>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Estava
tudo destruído. Seus companheiros estavam todos mortos. A floresta estava
maltratada e os animais mortos. O ódio dominava seus pensamentos. Uma voz se
fez ouvir novamente “me proteja! Não deixe que isso se repita” e o deu a
certeza de que era um apelo da própria floresta. Ele jamais deixou o ódio de
lado, mas jurou proteger a mata para que nada daquilo se repetisse. Começou a
cumprir sua promessa exterminando a tribo que o causou tanto sofrimento e,
desde então nunca mais parou. A floresta ganhou um protetor cuja história se
faz presente até a atualidade.</span><div><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"><br /></span></div><div><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">P.S.: Mais uma origem recontada.<br />P.S.²: Em um momento na qual a floresta arde em chamas, tal guardião seria espetacular! </span></div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-52387402365471029352015-09-14T21:56:00.002-03:002015-09-14T21:56:36.275-03:00Silêncio<div style="text-align: justify;">
A voz, outrora pomposa e rebuscada, foi tornando-se esculachada e grosseira. O corpo, antes esguio e preparado, tornou-se macilento e estático. Os cabelos, dourados e macios, estão se tornando escassos e duros. O sorriso, talvez não tão presente, se faz cada vez mais ausente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os anos passaram, a dor continua, a esperança está lá cintilante como sempre, o arrebatador desespero cresce e se multiplica assustadoramente a cada segundo. Os sentimentos se misturam, criam compostos enegrecidos com suaves fios brilhantes. Tudo é uma enorme bagunça, tudo é crítico, tudo é apenas uma firme ilusão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Novas e incríveis gerações surgiram, cada vez mais espertas, cada vez mais interessantes e cada vez mais arrogantes e estúpidas. Os vislumbres do passado distante causam repulsa, fecham a cara, amargam a boca. Não sobrou nada daquele tempo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tantos devaneios, tantas histórias, tantas vontades guardadas eternamente dentro de uma carcaça que se deteriora com o caminhar dos ponteiros. Os gritos, os ecos, os destroços como estacas a destroçar a essência do que um dia foi um ser humano. Todas essas iguarias insossas armazenadas apenas no núcleo do ser, sem se revelaram ao mundo a não ser através de um olhar que grita por socorro, mas implora pra não ser ajudado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P.S.: (...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-41813350151697523712014-12-05T02:37:00.003-02:002014-12-05T02:39:13.391-02:00Alma(s)<div style="text-align: justify;">
E o peregrino seguiu finalmente à grande metrópole para encontrar com seu destino ainda incerto. Caminhou por centenas de pessoas, passou batido por milhares de histórias de diversos tipos, mas nada o interessava, nada o tocava. Estava blindado em angústia e ansiedade. Seu corpo trêmulo não se acalmava, estava inquieto e despejava o suor frio da dúvida: será mesmo que todo o percurso e seus obstáculos foram dignos do que estava por vir? Ou tudo não passava apenas de uma grande ilusão? Só aquele momento poderia responder com toda certeza.</div>
<div style="text-align: justify;">
Após algumas horas, o corpo já trêmulo e molhado estava inundado e ressoava com os objetos ao redor. Não conseguia se conter perante o desespero e o medo; só queria que aquele momento acabasse logo, que tudo se revelasse e que as certezas se jogassem aos seus pés de uma vez. Em meio a espera, dois rostos conhecidos surgiram. Dois anjos da guarda se revelaram em meio à multidão. Dois anjos inebriados com a missão de acalmar um ser em polvorosa. E o fizeram bem. Conseguiram arrancar sorrisos inimagináveis àquela situação. Conseguiram, também, diminuir o desespero da espera. E resolveram caminhar um pouco em meio a multidão despreocupada e alvoroçada, parando próximos a vendedores ambulantes e suas quinquilharias diversas e bizarras, apenas para observar o caminhar das centenas de pequenas e brilhantes almas que ali passavam. E ali ficaram um tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eis que era chegada a hora de encarar a verdade há tanto esperada! Não dava mais para esperar: ou tudo se mostrava verdade, ou tudo desmoronaria definitivamente! E, após um pequeno aviso, eis que todo o cenário se desmonta. As pessoas e os anjos, agora, não passavam de pequenos borrões imperceptíveis, assim como os prédios e as tranqueiras dos ambulantes. Não haviam mais cheiros, gostos, pensamentos e nem dúvidas: o destino vinha direto em sua direção. O peregrino, que há pouco não conseguia se conter e precisava realizar gestos constantes para tentar, em vão, se acalmar, estava estático. A única coisa que conseguia fazer era fitar o par de olhos brilhantes que vinham em sua direção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um abraço. O mais caloroso e acolhedor abraço que alguém poderia receber foi entregue àquele que chegou a duvidar do destino inúmeras vezes. Um abraço que não era merecido após tantas falhas grotescas, após tantas desilusões e tanta dor causada. Um abraço que demonstrou que o destino não era implacável, apenas brincou com com a ambição e perseverança. Um abraço que serviu para dizer: você, após tantos anos, finalmente encontrou aquilo que procurava. Não precisa mais andar pelos vales sombrios ou caçar desesperos. Não precisa mais se sentir incompleto, pois a outra metade de sua alma está aqui finalmente, te abraçando como jamais fostes abraçado. Você, peregrino, está completo. Vá e seja feliz com um só, na companhia de seus inúmeros anjos da guarda espalhados por seu país. E não tema: tudo dará certo!</div>
<div style="text-align: justify;">
O encontro de duas almas que se completaram. O mundo fazia algum sentido ao peregrino finalmente. Mas tiveram que se separar mais um pouco dias após. Há muito o que se fazer antes que a união se faça de fato. Mas o peregrino está disposto a esperar o tempo que for, não importando se terá que esperar até uma próxima vida. E assim, duas almas se mostram apenas uma em um mundo de desesperança. E assim a jornada começa.</div>
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P.S.: E assim, na espera, tudo vira uma deliciosa bagunça.<br />
P.S.²: Bom voltar depois de muito tempo parado.<br />
P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html" target="_blank">aqui</a> e saiba mais!Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-33904859071347802862013-05-15T01:10:00.001-03:002013-05-15T01:10:17.472-03:00Álcool<div style="text-align: justify;">
Olhos fechados para visualizar melhor as lembranças de seu passado. Lágrimas que rolam pelo rosto agora enrugado e surrado. Um sorriso aqui, uma careta ali, tudo acontecendo novamente por debaixo das pálpebras de pele fina daquele solitário senhor, deitado em seu sofá de couro após uma tarde embebida em álcool. O resto de sol daquele dia entra pela janela e ilumina aquela pequena lágrima em seu caminho até o abismo entre a bochecha e o couro. A garrafa de uísque, agora vazia, está de pé próxima ao sofá, ao lado da mão de dedos grossos daquele homem.</div>
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Os olhos negros fitam os azuis daquele jovem rapaz. Risos ruborizados ecoam pela sala, seguidos do estalo de lábios insaciáveis um pelo outro. Roupas se vão, o pudor também e após várias horas de sussurros, gemidos e rangidos, ouve-se o debruçar de dois corpos ardentes em lençóis engruvinhados. Antes que qualquer coisa fosse dita, tudo se torna enevoado e os outrora apaixonados, se encontram discutindo, se agredindo e desiludindo: era o final de toda a esperança, o momento em que os olhos negros negaram o mergulho no azul profundo. O momento na qual o deus deu as costas a seu adorador. O instante em que o chão se abriu e o inferno se instalou na Terra. Em meio ao choro, os momentos de solidão passando como se estivessem em uma maratona, na qual o grande prêmio era segurar a mão fria e esquelética da ceifadora de almas. E ela esperava paciente, com um sorriso em seu pálido e magro rosto.</div>
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Olhos abertos. O senhor então senta-se e decide não mais lembrar do dia em que a escuridão que completava sua vida se foi. Tomou um banho, sentiu como se cada gotícula de água fosse uma agulha atravessando sua pele. As lembranças de como ele havia deixado aquilo acontecer o perseguem mesmo após tantos anos, e ainda doem como se tudo tivesse acontecido a poucos momentos. Agora ele passa os dias imaginando o que aconteceu e quem ilumina aqueles olhos escuros atualmente. Mais lágrimas, mais dor, mais vontade de apenas desaparecer. </div>
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Ele está ajoelhado com suas mãos tapando o rosto enquanto as agulhas caem em suas costas. Uma brisa fria entra pela janela e uma presença é notada à sua frente: lá estava a guia para o outro mundo, com um sorriso aconchegante e a mão esperando para levantar aquele que já havia batalhado demais. Ele segurou sua mão, levantou e a seguiu para a luz mais reconfortante de todas. Ao fundo podia ver uma silhueta conhecida. Seu sorriso foi inevitável e, tomado pela sensação de ter seus vinte anos novamente, correu em direção a ela, a abraçou e nunca mais haveriam de se separar novamente, não importando de qual lado da vida fosse. E assim cumpriram o acordo por toda a existência.</div>
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P.S.: Promessas que deveriam ser cumpridas, mas sujeitas à aprovação de um superior. Talvez o ciclo envolva separações e dor, mas o amor prevalecerá.</div>
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Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-3958320064681766522013-02-21T00:11:00.002-03:002013-02-21T00:11:50.129-03:00Sonhos Intervalados <div style="text-align: justify;">
Observo-te ao longe sentado à mesa e rodeado de amigos e conhecidos nossos. Um olhar, todo entendimento. Um piscar, outro cenário. Burburinhos, silêncio. Pânico, apatia. Imprevisto. A noção de que algo está diferente. O perceber que não era para estar ali. A voz suprema, bem distante, questiona. Os coadjuvantes, antes principais, quebram o vínculo; apenas passeiam. Olhos estarrecidos encontram o profundo oceano negro. Paz. Por alguns segundos. Ironia. Sorriso sarcástico. Olhos que ameaçam afogar-me em uma mistura de conforto e deboche: talvez seja melhor assim. Um encontro silencioso de décadas em segundos. Dúvidas. Medo. Certeza. O indestrutível resumido a escombros. Escuridão. O sol irrompendo da janela. Os olhos ardem. Uma lágrima. Uma revolta. Apareça! Vamos! Não se esconda no meu refúgio! Saia daí! Nada. Apenas um quarto vazio. Somente dois corações despedaçados. Duas almas em busca uma da outra. Talvez à noite tenhamos um encontro melhor... Provavelmente não. Fecharei os olhos novamente. Nos encontramos lá, em nosso paraíso dos sonhos. </div>
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P.S.: O mais confuso dos sentimentos se revela aos poucos, em intervalos de sonhos.</div>
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P.S.²: Quer saber mais? Tem alguma dúvida? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html" target="_blank">aqui</a> !!</div>
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A flor por entre as rachaduras do cimento desabrocha esplendorosa, por entre a terra seca finca as raízes que serão nutridas pela água que se infiltrará através das precipitações e se esforça para erguer seu corpo e conseguir a tão incrível luz que a manterá viva e forte. Uma sobrevivente em meio ao caos e a poluição, uma guerreira silenciosa e sábia, um lembrete da própria terra de que ela passará por cima de nós e de nossa história para se manter soberana. Apenas um lembrete que cresce vagarosamente, com a paciência digna de um mestre que viveu muitos anos praticando a arte de seguir o tempo que for necessário para que tudo aconteça. </div>
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O apocalipse desordenado é interrompido pela mais bela sinfonia da vida, quase como se tudo ao redor fosse parado ou tivesse apenas seu andar retardado por aquele sopro de esperança divino. A luz do dia se fixa naquele pequeno acontecimento; à noite, o espetáculo fica por conta da sensação de cascatas de faíscas, como em comemorações especiais em celebração a tudo que é mais belo. Ao entardecer, o sol poente lança seus últimos raios em saudação a nova vida que acaba de nascer. </div>
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Um pé põe fim a toda esperança. Apenas um pé foi capaz de estraçalhar o mais belo lembrete de nossa criação. Um pé calçando um coturno surrado e imundo foi o responsável pelo retorno da sinfonia da destruição, dos violinos desafinados, dos trompetes sem fôlego, das flautas insanas e do maestro usando colônia de enxofre. Apenas um pé governado pela insensatez, um pé mal cuidado e emporcalhado. Apenas um pé despedaçou a última pétala de esperança por nossas almas. Apenas um pé, apenas um corpo, apenas um maltrapilho a serviço de criaturas obscuras em troca de uma soberania atribuída apenas ao maestro de tudo isso. Apenas nosso destino. </div>
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P.S.: Caminhemos de cabeça erguida, assim não veremos em que estamos pisando.</div>
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Pandora estava com a carta em mãos, paralisada eternamente naquele pesadelo. A lágrima escorreu por sua face petrificada e gotejou no chão. A implacável realidade, a verdadeira Medusa, finalmente a encarou. Estava só, vítima de seus próprios atos egoístas e vingativos, de sua língua bífida e de seu corpo apodrecido. A batalha para conquistar aquele que seria sua alma gêmea terminou em tragédia: a alma agora estava destroçada, esquartejada, esmigalhada, remontada e em nada lembrava aquela buscada inicialmente, tanto que seu receptáculo, outrora esguio e gracioso, estava macilento, aterrorizante, carrancudo e indesejável até mesmo pelos abutres! </div>
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Aquela brava guerreira, forte em aparência e na escolha de palavras, cedeu, ajoelhou-se em prantos em frente ao enorme espelho de seu quarto. Não parava de questionar o por quê dessa derrota que, somente para ela, parecia tão repentina. Levantou-se, cambaleou até a robusta cômoda negra e pegou sua adaga de prata. Estava decidida: aquela alma antes tão desejada deveria ser destruída de uma vez por todas! </div>
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Ao abrir a porta para cessar de vez os murros dados do lado de fora, a alma se viu apunhalada novamente em seu centro. A dor era tão intensa que ele urrou, lágrimas correram de seus olhos e seus joelhos desabaram. Pandora então se preparou para desferir mais um golpe quando foi surpreendida pelas mãos de sua vítima agarrando as suas, forçando-a a derrubar a adaga. Mesmo com a certeza de que estaria morto em poucos segundos, o agonizante macilento pegou a arma do chão e desferiu um golpe certeiro no coração de sua caçadora. Estava tudo terminado. Seus corpos jaziam juntos no escarlate hall de entrada. </div>
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Uma história que começou tão bela e encantadora terminou como um massacre. Eles acreditavam que deveriam ficar juntos e assim foi feito. Não da maneira desejada, mas estavam agora eternamente unidos.<br />
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P.S.: Pandora, despertaste o caos no mundo novamente! Aliás, em dois pequenos mundos.<br />
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O ciclo de amor e ódio, paraíso e inferno se mostra como em uma montanha russa sem hora para acabar. As amarras rompidas a força formam cachoeiras escarlates que desembocam em um oceano negro de amargor que, infelizmente, estás a se afogar. Tentas nadar para a praia mais próxima, mas de nada adianta se segues a maré pecaminosa que o conduz a alto mar. O espelho negro das águas reflete o oposto de tudo aquilo que sentes apenas para atraí-lo a uma armadilha mortal, tal qual as sereias fazem ao cantar para os marinheiros desavisados e descrentes. </div>
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As vozes dos invocados das trevas o tentam, dizem com astúcia o que deves fazer, só não lhe dizem suas reais intenções. Vossas costas possuem adagas negras fincadas. Estas lhe sugam o resto de razão que outrora possuías aos montes. Sois agora como um boneco de pano jogado ao mar, encharcado, carregado pelas mãos fortes do oceano, servindo ao bel-prazer de toda espécie de criatura. Em pouco tempo, serás apenas um farrapo carregado pelas ondas até uma praia distante, para finalmente ser esquecido por todos aqueles que destruíram-lhe os sonhos, que desviaram-no do caminho para a felicidade e superação de sua própria escuridão, e serás lembrado eternamente por aqueles que tentaram remendar os rasgos, mas não pela beleza que um dia esbanjastes, mas pelo monstro que deixastes emergir em meio ao desespero.</div>
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A partir daqui serás apenas uma página virada no grande livro da vida. Uma página que começou com a esperança de que tudo seria diferente, mas no meio do caminho se tornou ilegível, desagradável e por fim encerrou-se de modo grosseiro, deixando o arrependimento por ter começado a lê-la como certeza irrevogável. Adeus, página chafurdada na imundície. Há muito já deveria ter sido virada. </div>
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P.S: O ciclo encerra-se. Ao menos, é o que se espera. </div>
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P.S.²: A falta de rancor e mágoa tornam-me um preguiçoso sem criatividade. </div>
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Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-75161449448240005252012-07-13T00:14:00.002-03:002012-07-13T00:14:38.098-03:00O Final (Ou O Novo Gênesis)<div style="text-align: justify;">
Os últimos humanos realmente vivos lutam há mais de um ano contra aqueles que se levantaram das próprias tumbas. A comida se tornou rara, os lugares tranquilos para se produzir o que comer também, uma vez que em toda parte podia se encontrar um desses que se recusaram a morrer. Cidades enormes encontram-se destruídas. A vida selvagem foi completamente afetada pela migração dessas criaturas para as florestas em busca de comida. Um cenário previsível apenas em histórias em quadrinhos, séries e filmes sobre zumbis.</div>
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Mas o mais extraordinário e aterrador ainda estava por vir. Ao entardecer, um tremor violento rasgou as ruas daquela que já foi a maior cidade do mundo. Desse enorme rombo, uma figura aterradora se ergueu. Suas vestes eram negras e esvoaçantes, seu rosto coberto por um capuz, enormes asas de penas escuras como a noite surgiam de seus costas e em suas mãos pálidas e esqueléticas, uma gadanha cujo cabo era feito de uma madeira escura, com aspecto de algum galho recém-retirado de alguma árvore, e com lâmina brilhante e aparentando ser bem afiada. Todos que se encontravam naquela rua, vivos ou não, pararam para admirar tal entidade. Todos demonstravam medo em seus rostos. Todos ali conheciam aquela figura maligna e se espantaram ao vê-la emergir das profundezas. Logo, os vivos estariam ainda mais surpresos.</div>
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A criatura abaixou o capuz e revelou sua feminina, branca e magra face. Ao contrário do que muitos até então pensavam, a verdadeira face da morte não era horrível ou assustadora; era como de uma mulher bonita e muito magra, de cabelos negros e lisos, mas com o olhar firme e superior, sabendo de sua posição para a manutenção do universo. Ela então estendeu sua mão esquerda e, com um gesto simples de quem pede para alguém se aproximar, todos os mortos voltaram para seu sono eterno. Suas asas se abriram e ela desapareceu em um instante, deixando os vivos aliviados e confusos. O que realmente aconteceu? A morte perdeu o controle sobre as almas? Ou quis apenas que os humanos recebessem uma lição? A resposta nunca foi encontrada. </div>
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A humanidade se refez, o mundo começava a se reerguer mas, dessa vez, com receio do que poderia vir a acontecer se as coisas chegassem ao nível que tinham chegado antes daquele apocalipse. Todos deixaram de apenas temer a morte, começaram a respeitá-la e a pedir para que ela não deixasse esse mundo novamente. A paz finalmente pôde reinar sobre os humanos. Era um final feliz para quem já provou inúmeras vezes que não merecia; era o aviso final.</div>
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P.S.: Não se deve apenas temer e evitar aquilo que é a nossa única certeza, pode ser que um dia ela não se faça presente e nos mostre da maneira mais difícil qual a sua verdadeira função.</div>
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P.S.²: Fim da saga dos mortos-vivos. Fim do mainstream.</div>
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P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html" target="_blank">aqui</a> e saiba mais.</div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-42530248548489864472012-07-07T01:57:00.001-03:002012-07-07T01:57:27.387-03:00Última Parada<div style="text-align: justify;">
E o ônibus se aproxima de sua última parada antes de chegar ao seu destino final. Todos os passageiros começam a acordar, coçar os olhos e enfileirar-se no estreito corredor para finalmente irem ao banheiro e esticar um pouco as pernas após algumas horas de viagem pela madrugada. Mas algo não estava normal: uma pequena multidão se aglomerava ao redor de um ônibus mal estacionado em sua vaga. Uma mulher gritava desesperadamente e era amparada por funcionários do famoso posto à beira da estrada. E logo o motivo ficou visível a todos daquele recém-chegado ônibus: havia um corpo estirado entre o veículo mal estacionado e a sarjeta de sua respectiva vaga.</div>
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Ao descer, a maioria dos passageiros se reuniu à curiosa, e cada vez maior aglomeração para ver o desfigurado defunto. Mas a fúnebre alegria durou pouco, pois logo as equipes de resgate e os policiais chegaram para averiguar o ocorrido e, obviamente, dispersar os urubus de cima da carniça fresca (como dito por um dos socorristas). Após alguns instantes, a maioria dos curiosos foi dispersada, o corpo foi coberto e os policiais começaram a coletar informações com as testemunhas uma a uma. </div>
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Os passageiros do até pouco tempo ônibus recém-chegado começaram a reembarcar normalmente após os costumeiros vinte minutos de parada quando uma senhora, lá do final da fila, começou a gemer de medo e apontar em direção ao corpo coberto. Todos pararam e levaram as mãos à boca ao vislumbrarem a bíblica cena do corpo que retorna do mundo dos mortos. Por alguns instantes acreditaram se tratar de um milagre, mas logo perceberam que era a própria visão do apocalipse: o corpo ressurreto grunhiu ferozmente e avançou em direção a uma das testemunhas, mordendo-lhe e arrancando-lhe um grande pedaço de seu rosto! Os policiais então o agarraram e o forçaram a soltar a testemunha, mas ele não pode ser contido e começou a avançar em direção a uma jovem que estava próxima ao banheiro. Ambos, corpo e jovem, correram para dentro do banheiro e para fora da visão dos embasbacados passageiros.</div>
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A garota, em um estranho reflexo de seu pavor, correu com o corpo virado para aquela assustadora criatura e, ao topar com um balde, caiu sentada no frio e molhado piso. Antes mesmo que pudesse descobrir do que o piso estava molhado, o ensanguentado e enfurecido morto vivo lançou-se para cima da jovem, com suas mãos sempre à frente para garantir que sua presa não fuja. Ela tentou impedir o avanço dos destroçados dentes com força total, mesmo sabendo que não seria suficiente. Os dentes estavam conseguindo chegar cada vez mais perto de seu suave pescoço. Ela fechou os olhos para sua última prece. E um estrondo se fez ouvir naquele ambiente imundo. E o corpo estava novamente sem vida. E uma voz arrogante se fez ouvir:</div>
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- Então é assim que isso vai começar? Um atropelado correndo atrás de uma garotinha? Você ai de cima, e você ai de baixo: esperava algo melhor vindo de vocês para um apocalipse! </div>
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Quando finalmente abriu os olhos e removeu o gélido cadáver de cima de seu belo corpo, a jovem não conseguiu localizar seu salvador, só alguns curiosos se aglomerando cada vez mais na porta do banheiro para tentar entender a situação. Mas todos ali, sem sequer trocar uma palavra, sentem que aquilo era só o começo de algo que os colocaria em grande perigo.</div>
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P.S.: E assim o mundo caminha em direção ao juízo final! Os mortos levantam de suas tumbas e julgam quem deve ou não permanecer realmente vivo, ou seja, nenhum de nós! Nos vemos na Igreja dos Mortos-Vivos para uma última oração.</div>
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P.S.²: Um assunto tão desgastado que rende inúmeras histórias. Me rendo à ressurreição dos putrefatos.</div>
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P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html" target="_blank">aqui</a> e saiba mais! </div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-29789525556348969902012-06-06T22:40:00.003-03:002012-06-06T22:42:39.676-03:00A Igreja dos Mortos-Vivos<div style="text-align: justify;">
"<i>Pai nosso que estais nos céus</i>" </div>
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A primeira frase sussurrada ao ajoelhar-se no genuflexório não poderia ser outra, não poderia ser murmurada sem ser ajoelhado, não poderia ser feita com paz no coração. Não naquele momento.</div>
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"<i>Santificado seja o vosso nome</i>"</div>
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Ao fundo, passos. Lentos passos rumo ao altar, em direção daquele que perturbava o martírio de Nosso Senhor.</div>
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"<i>Venha a nós o vosso reino</i>"</div>
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A quem pertence aquele caminhar? Seria a um deles? Não! Apesar de lentos, são passos firmes, de quem realmente sabe para onde vai! Talvez seja mais um fiel.</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i>Seja feita a vossa vontade</i>"</div>
<div style="text-align: justify;">
As mãos estão agora mais unidas do que nunca. O suor escorre por entre os dedos trêmulos de quem não tem certeza se, dali para frente, tudo estará bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i>Assim na terra como no céu</i>"</div>
<div style="text-align: justify;">
Os atitos dos gaviões que voam nas alturas se fazem ecoar pela cúpula quase como se eles estivessem dentro daquele templo.</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i>O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas</i>"</div>
<div style="text-align: justify;">
Esses malditos passos estão cada vez mais próximos e mesmo assim demoram a chegar!</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i>Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido</i>"</div>
Talvez seja aquele vizinho chato vindo pedir perdão pelo palavreado abusivo de quando tudo isso começou.<br />
"<i>E não nos deixeis cair em tentação</i>"<br />
E quase no final da mais sagrada das orações, a mente se desvia para as lembranças da noite em que a mulher do vizinho serviu de consolo para a perda da própria esposa.<br />
"<i>Mas livrai-nos do mal</i>"<br />
Os passos pararam. O som da inspiração indicava uma proximidade assustadora.<br />
"<i>Amém!</i>"<br />
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O estampido do revólver ecoou por toda a igreja. O sangue projetou-se de uma perfuração no centro da testa direto para o branco que envolve o altar. O corpo largou-se sobre o apoio do genuflexório, como um anjo se debruça sobre o túmulo.<br />
O último pedido de um desesperado foi realizado. Estava livre daquele mundo na qual a força não designa aquele que sobrevive. O mundo se tornou um lugar cujos mortos erguem-se para saciar o desejo infinito de ingerir partes daqueles que foram de alguma importância em suas vidas.<br />
Mais uma vez o estampido afugentou os pássaros que descansavam no coro. A arma estava no chão. Ao seu lado, um corpo de meia idade a reforçar ainda mais o vermelho do tapete. Ao fundo, dezenas correm em direção ao tão esperado banquete.<br />
<br />
P.S.: E nesse dia, a excruciante dor de ter generosos pedaços da carne mastigados foi evitada graças a alguém que atendeu aos pedidos contidos na prece. Pode-se dizer que foi obra de um controverso anjo.<br />
P.S.²: O sacrifício realizado nunca será em vão.<br />
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<br />Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-68581489896718437282012-05-29T23:22:00.000-03:002012-05-29T23:22:00.260-03:00A Chave dos Três Destinos<br />
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Uma chave e três fechaduras. A chave é compatível com todas as fechaduras. Porém, se uma for aberta, as outras duas se fecharão. Há placas com enigmas e pistas sobre o que está atrás de cada porta. A decisão sobre o que libertar é de única e exclusiva responsabilidade do portador da chave. O tempo está passando, mas isso não quer dizer que a chance escapará e nunca mais retornará. Aliás, a chance só escapará se o portador decidir se desfazer da chave ou, de alguma forma, tentar encontrar alguém para assumir seu lugar, o que é praticamente impossível, pois a chave costuma escolher o próximo portador. </div>
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Essas são as instruções para que o templo seja aberto! São três caminhos, uma escolha e as consequências variam da glorificação à destruição daquilo que um dia foi uma construção repleta de vistantes que, apesar de não se interessarem pela estrutura física, queriam absorver todo seu conhecimento e compartilhar o próprio. Agora resta apenas a carcaça vazia e egoísta em manter todas as informações trancadas em um pequeno e sofrido receptáculo.</div>
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Vá! Abra o templo! Não importa se decidirá fazer isso hoje ou daqui seis meses, apenas faça! Não deixe que tamanha estrutura seja destruída pelas areias do tempo e da insanidade! É o último portador, aquele que selará o destino de tudo! Apenas faça o que tem de ser feito!</div>
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P.S.: Instruções gerais para cumprimento de destino alheio. Talvez seja melhor apenas atear fogo à elas e deixar que o destino decida o pior caminho possível, mas ainda há alguma esperança, mesmo que bem pequena, de que tudo ficará bem.</div>
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P.S.²: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html" target="_blank">aqui</a> e saiba mais!</div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-53015841643783754062012-04-25T00:34:00.000-03:002012-04-25T00:34:35.723-03:00Madrugada<div style="text-align: justify;">
Quarto escuro, cama dura, insônia e desespero. Aquela noite só poderia ser descrita dessa forma. Olhar para o teto escuro e pensar no que seria feito do futuro era tudo que restava para o abatido rapaz ( E ele estava realmente abatido: seu roliço e rosado corpo fora transformado em um esquelético e acinzentado pedaço de ser humano!). Finalmente ele conseguiu fechar os olhos e começou a levemente cochilar.</div>
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Na escuridão da madrugada, um estalo ensurdecedor fez com que o jovem literalmente pulasse da cama e se colocasse prontamente em pé a seu lado. Ao olhar para frente, deparou-se com um par vermelho de olhos encarando-o fixamente e ficou estático de pavor! Não conseguia se mover, por mais que quisesse. E lá estavam aqueles dois círculos flamejantes fixos em direção a seus olhos; um olhar tão profundo e apavorante que parecia apoderar-se de seu corpo.</div>
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As horas passaram e nenhum dos dois se movimentava: nem o dono dos olhos, nem o rapazote. Com isso, o medo foi lentamente deixando seu corpo mais controlável e, com isso, resolveu se aproximar e verificar se aqueles olhos realmente possuíam um dono. Passo a passo ele se colocou mais próximo do que tanto o assustava, até que esbarrou em uma superfície plana e fria. E lá estavam os olhos fixos nos seus novamente. Mas, dessa vez, a luminosidade vermelha permitiu que ele descobrisse quem estava a encará-lo.</div>
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Boca entreaberta, uma lágrima desesperada sutilmente rolou por sua face: o dono daqueles olhos era ele mesmo! A superfície fria era um grande espelho que deveria ter sido levado para a sala durante a tarde. Ele se ajoelhou, levou as mãos à cabeça e, com um forte grito, acordou em sua cama com o celular avisando que já era um novo dia. E o espelho continuava em seu quarto.</div>
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<br /></div>
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P.S.: Sonhos realmente podem dizer muito sobre determinadas situações, mesmo não sendo da maneira mais direta possível.</div>
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P.S.²: Dúvidas, clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html" target="_blank">aqui</a> e saiba mais!</div>
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<br /></div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-77091625521078971232012-01-17T23:19:00.000-02:002012-01-17T23:19:20.239-02:00Carta de um Cadáver<div style="text-align: justify;">
O trecho a seguir foi retirado de uma carta encontrada nas mãos de um suposto suicida. O começo da carta estava danificado demais e tornou-se ilegível. </div>
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<br /></div>
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"(...)após todos esses anos, todas essas decepções, desventuras, desesperanças e punhais ardentes em minhas costas, eis que me isolo do mundo. Ah! Esse tão cruel mundo moderno, com sua tecnologia capaz de unir pessoas distantes e separar as próximas, unir dois corações em uma única parte e depois picotá-lo como se fosse um mero pedaço de papel nas mãos de uma criança e capaz, também, de criar pessoas cada vez mais frias, obscuras e tristes, incapazes de domar os próprios sentimentos. </div>
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Talvez agora, alguns meses isolado, eu perceba o quão maravilhoso era esse mundo (e o quão perverso era também). As noites mal dormidas, a incrível falta de momentos sóbrios, as intrigas, as promiscuidades que não envolviam a conexão carnal em si, mas eram dignas de contos eróticos e bizarros, a filosofia embriagada de pessoas com a mente vazia da utilidade buscada pelas grandes empresas e lotadas das mais diversas formas de cultura inútil, todas essas características me despertaram um sentimento de nostalgia. </div>
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Hoje sinto nostalgia, mas não aquela que parece dizer 'como foi bom esse tempo! Mas agora é hora de seguir em frente!' e sim aquela que me diz 'Esses foram momentos de sua vida. Olhe para trás enquanto pode, pois serão suas últimas lembranças!'. O futuro se mostra a mim como uma grande muralha negra, que não me permite enxergar sequer um pequeno filete de esperança. </div>
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Minha cabeça está cada vez mais como uma grande orgia entre todos os pensamentos, onde um mero observador consegue ver o que se passa, mas não entende os detalhes por estarem confusos em meio a tantos braços, pernas, corpos, cabeças e ruídos. Sinto todas as noites como se fossem a última. Talvez essa realmente seja! Mas vou passá-la como tenho passado todas as outras, repousando a cabeça em meu surrado travesseiro. "</div>
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<br /></div>
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P.S.: E ele não mais se levantou. E, apesar da pouca idade, seu cadáver aparentava ser de alguém décadas mais velho. Talvez a vida tenha lhe sugado os últimos resquícios de juventude fazendo-o entendê-la antes da hora.</div>
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P.S.²: Voltando a escrever após um pequeno hiato. Dedos e mente enferrujados. Prometo melhoras.</div>
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P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais.</div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-41379748199625361812011-12-07T00:00:00.000-02:002011-12-07T00:00:06.060-02:00Espessa JanelaEnjaulado, preso em um pequeno cubo composto por barras de ferro grossas e esburacadas. Há apenas uma lâmpada que desce de uma das barras que compõem o "teto" dessa jaula, que está suspensa na escuridão.<br />
O desespero de estar preso em uma pequena jaula em meio à escuridão é indescritível, talvez só não seja pior do que perceber que a cela está, de alguma forma, encolhendo! As barras começaram a ranger e a se movimentar vagarosamente em direção ao centro da jaula. Os gritos de desespero pareciam abafados: talvez a sala fosse preparada acusticamente para que os sons ficassem ali dentro, ou o desespero tampou-lhe os ouvidos.<br />
Um leve cheiro de gás, uma fagulha e as barras estavam em chamas! Os orifícios que predominavam na jaula eram para acender o fogo! Apenas o chão não estava completamente em chamas. Mais desespero e logo após, conformidade... não havia escapatória! O cruel destino estava se aproximando ardentemente.<br />
As luzes da enorme sala se acenderam. No centro, a jaula parecia uma grelha que acabara de deixar passar do ponto a carne do macabro churrasco. Nas paredes, janelas com um espesso vidro, onde podiam ser vistas pessoas passando indiferentes ao ocorrido, como se não pudessem ver aquele horror, mesmo que escancarado em sua frente.<br />
<br />
P.S.: "Interessante essa filmagem sendo exibida nessa parede! Que rapaz bonito e alegre esse das imagens! Mas parece que há uma luz ao fundo... parece fogo! É, deve ser apenas algum defeito dessa tela. Ela é muito grossa para esse tipo de projeção."<br />
P.S.²: Grite quão alto conseguir! Ponha seus pulmões no mundo, polua-os com a toxidade da atmosfera! Torne sua voz tão estridente que quebre todas as taças de cristal! Mas tome cuidado: volume e estridência não garantem que será ouvido!<br />
P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-57358201531598485892011-12-05T00:11:00.000-02:002011-12-05T00:11:36.669-02:00O Último SuspiroO mundo começa a se ver mergulhado em uma estranha epidemia de uma desconhecida e lentamente mortal doença, cujos principais sintomas são fadiga e leve grau de cegueira* (com visão embaçada, semelhante à miopia) no começo e extrema fraqueza e visão bastante comprometida em seu estágio final.<br />
A doença começou em uma pequena cidade do interior e se espalhou pelo país, gerando um alerta global que conseguiu conter a enfermidade até certo momento, mas alguns casos isolados começaram a aparecer em outros países.<br />
O primeiro infectado, um rapaz em torno de 25 anos de idade, agora está no estágio terminal da doença e se encontra no isolamento do principal hospital daquela pacata cidade. Além da extrema fraqueza, a tristeza o acomete e só faz com que sua hora final chegue mais rápido. Mas sua tristeza não é oriunda da morte iminente, e sim do então inevitável desfecho de sua vida, sem poder sequer ver uma pessoa em especial: aquela na qual trocou correspondências por vários anos e que, devido aos desencontros da vida, não pode conhecer pessoalmente, quanto mais realizar o sonho de tocar seus lábios no dela.<br />
No começo do que certamente seria sua última semana, o rapaz acordou com um estranho vulto à sua frente, que logo imaginou ser um dos médicos, apesar de não ser possível a percepção das enormes roupas para evitar o contágio. O vulto se aproximou, abaixou até próximo à sua orelha e com a mais tênue e, para ele, deliciosa voz exclamou um emocionado "finalmente estou aqui a seu lado!". As lágrimas foram inevitáveis e seguidas de um caloroso abraço e, finalmente, o primeiro beijo de duas almas que deveriam ficar juntas até o final de suas vidas. E assim foi. Ao término daquele tão esperado beijo, a vida daquele rapaz se encerrou.<br />
Ao contrário do que se imagina, a amada não desatou a chorar de dor pela perda. Apenas sentou-se ao lado daquele que nunca desistiu, segurou firme em sua mão e com um satisfatório sorriso sussurrou algo como "Após tanta luta, finalmente ficaremos juntos para sempre".<br />
<br />
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P.S.: Vida injusta e desencontrada que nos prepara para uma eternidade tão certa e perfeita.<br />
P.S.²: Pode demorar o tempo que for: mas tudo isso só tende a crescer e a amadurecer cada vez mais.<br />
P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-47404564546482777032011-11-17T23:30:00.001-02:002011-11-18T00:11:40.637-02:00O Deus do Novo Mundo<div style="text-align: justify;">
Bolas de fogo caem do sanguinolento céu, arrasando grandes cidades como se fossem pequenos e vulneráveis formigueiros! Bestas aladas sobrevoam o pouco que restou, caçando sua refeição e combustível para as chamas lançadas por suas bocarras fétidas e repletas de presas afiadas: humanos!</div>
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O caos dominou o mundo após o anúncio de que um jovem de peculiares olhos possuía incríveis poderes dignos de um deus! Ele era capaz de criar vida apenas com sua imaginação e uso da energia vital predominante na atmosfera! Extraordinário poder logo atraiu o interesse dos governantes e o temor dos meros ignorantes cidadãos, que passaram a hostilizá-lo e denominá-lo como aquele que traria o apocalipse ao nosso mundo.</div>
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O confiante rapaz, ciente das consequências de tamanho abalo perante sua onipotência, decidiu não se entregar aos governantes e muito menos aos revoltosos cidadãos ao redor do mundo: decidiu isolar-se em um típico e pacato campo, cuja localização não é conhecida. Viveu lá durante alguns poucos anos, aprimorando e descobrindo novas habilidades e ligações entre elas e seus acinzentados olhos, até que o mundo resolveu que era hora de eliminá-lo!</div>
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No decorrer desses anos, os amedrontados governantes se uniram e criaram um único exército para impedir o tão temido e, segundo líderes de todas as crenças e religiões, inevitável fim dos tempos! E esse esforço para aliviar a tensão geral e dar sensação de alívio chamado Exército da Nova Terra descobriu a localização e atacou a morada do jovem no amanhecer daquele quente domingo.</div>
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Ao redor do globo, as pessoas acompanhavam , vidradas em seus televisores, a operação que as livraria do terror iminente. Ao exibirem as primeiras imagens da humilde choupana do jovem com poderes olímpicos*, as emissoras foram surpreendidas com perda de sinal e exibição de uma tela escura. O planeta ficou aflito e o caos foi geral. Mal sabiam as pessoas que tudo terminaria em um banho de sangue.</div>
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Algumas horas após a queda da transmissão televisiva, o chão se abriu na praia da maior capital do globo, e dele emergiu uma enorme parede de pedra. Logo o céu se tornou escarlate e dele caiu a primeira esfera flamejante. Por trás da monumental parede recém-erguida, uma nuvem de bestas aladas decolou rumo à cidade. No topo daquele enorme bloco de pedra, surgiu a sombra de um homem trajando uma antiga armadura, remetendo aos poderosos samurais, e segurando um cajado com grossas argolas penduradas na sua extremidade em forma de meia-lua. O mundo aprenderá com a dor da perda a finalmente viver em paz.</div>
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*Comparados aos poderes dos deuses que habitavam o Monte Olimpo.</div>
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P.S.: O homem deseja eliminar aquilo que teme, mesmo que aquilo não demonstre vontade ou necessidade de causar temor ao homem.</div>
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P.S.²: Personagem, poderes e ideologia claramente inspirados nos personagens Nagato (e seu pseudônimo Pain) e Rikudou Sennin (Eremita dos Seis Caminhos), do mangá Naruto, cuja autoria é de Masashi Kishimoto e de direitos pertencentes à Shonen Jump. Apenas uma postagem ficcional completamente inspirada naquilo que o autor tem acompanhado durante os anos.</div>
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P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!</div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-7973485208843708502011-10-24T23:33:00.000-02:002011-10-24T23:33:03.136-02:00O Âmago do Fracasso<div style="text-align: justify;">
A criatividade deixa minha mente, escorre pelas minhas pálidas mãos e se evade ralo abaixo. A dor, e a impossibilidade de desabafá-la em meios outrora utilizados para tal, me sufoca, me aperta o pescoço como um assassino que silenciosamente invade um quarto em busca de sua vítima (propositadamente ou em decorrência de um infeliz encontro durante um furto).</div>
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Meus olhos já não possuem mais vitalidade e carisma, apenas uma camada esbranquiçada de lembranças agradáveis utilizadas como amenas cortinas que disfarçam a feiura de uma janela que já sofreu as ações do tempo.</div>
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O corpo está deformado em decorrência do desespero por um bem-estar temporário, que fora devorado aos montes em troca de poucos momentos de tranquilidade torpe. Deformada está, também, a capacidade de raciocínio lógico, tornado em pequenos pedaços de realidade e distorcidos blocos de fantasia e melancolia.</div>
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Conforme o tempo passa, mais certeza há de que tudo serviu apenas para transformar um homem em uma criança despedaçada, acuada em um canto do quarto e vociferando absurdos para que ninguém consiga se aproximar de sua enorme e sangrenta ferida. Mesmo assim, a alma infantil ainda consegue ver um pequeno raio de esperança no horizonte sombrio da vida.</div>
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P.S.: O desesperador motivo pela qual uma pessoa pode sumir da vida de várias outras é o mesmo que fará com que o ciclo de angústia jamais se extingua. </div>
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P.S.²: Talvez eu me arrependa de postar algo tão íntimo. Mas, como sempre, talvez a mensagem não seja tão facilmente decifrada. A sorte está lançada.</div>
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P.S.³: Problemas? Reclamações? Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui </a> e saiba mais!</div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-62914705911826148002011-09-21T18:02:00.001-03:002011-09-29T00:34:04.142-03:00As Lágrimas De Deus<div style="text-align: justify;">
O polêmico magnata Antoinne de Saritré fora chamado a uma estação de rádio para uma entrevista tão incômoda quanto sua língua ao tratar de assuntos como política e religião - ambos temas abordados em tal entrevista, e o bilionário chocou a todos ao dizer, dentre outras coisas, que possui fé mas, se pudesse, eliminaria os ditos líderes religiosos e derrubaria todos os luxuosos templos sem dó nem piedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em um momento da entrevista, um dos radialistas, esperando uma resposta preconceituosa, perguntou ao magnata se eliminaria os homossexuais da face da Terra. A resposta, transcrita abaixo, surpreendeu o mundo: </div>
<div style="text-align: justify;">
"Jamais faria uma loucura desse tipo! Um dos motivos é minha bissexualidade! E antes que invente de perguntar algo mais ousado ainda, nem mesmo eliminaria os travestis! Se por acaso eu entrasse para a política, faria a regularização e eles poderiam fazer como as prostitutas em alguns lugares do mundo.</div>
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Isso não significa, portanto, que eu defenderia homossexuais acima de tudo! Assim como no meio dito "normal", há muitas pessoas de péssimo caráter nesse meio! Pessoas de má fé! E essas seriam presas como qualquer outra pessoa."</div>
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(...)"Se Deus odeia os homossexuais? Creio que não. Acho mais fácil Ele odiar quem usa Seu nome para enganar as pessoas fracas mentalmente e torná-las como papagaios-zumbis, que só fazem perambular por aí repetindo a mesma baboseira sempre! Essas pessoas sim merecem levar uma porrada enquanto caminham pelas avenidas ou serem enforcadas em nome da moral e bons costumes! E eu já falei demais! Adeus!"</div>
<div style="text-align: justify;">
E um dos homens mais ricos do mundo se levantou e saiu. Ao chegar à porta da rua, avistou algo inimaginável: seus seis seguranças estavam, cada um, acorrentados a uma pessoa diferente que, por sua vez, estavam conectadas pela cabeça a construções que remetiam a templos das mais diversas religiões.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os olhos dessas pessoas não traziam luz e vida, apenas escuridão e, como Antoinne descobriria logo em seguida, a morte. O polêmico e incansável senhor Antoinne de Saritré foi espancado ali mesmo pelos próprios seguranças, enquanto era humilhado e achincalhado em nome do deus de cada uma daquelas pessoas. Como já era um senhor no auge de seus 79 anos, não demorou muito a morrer e, assim que a vida deixara seus olhos, as doze pessoas e os seis templos arderam em alegria. E as pessoas se tornaram maiores, enquanto suas cabeças encolhiam e suas línguas profanas cresciam cada vez mais podres. Dos templos era possível ouvir o tilintar das inúmeras moedas que entravam e do cinzento e tristonho firmamento, caia uma fina chuva salgada como as lágrimas de dor de um pai ao ver seus amados filhos usando-o como instrumento da morte.<br />
<br />
P.S.: Os espertos acorrentaram e amordaçaram Deus com suas línguas profanas e taparam os ouvidos dos idiotas para que não ouçam sequer suas abafadas súplicas de que a humanidade se torne boa.<br />
P.S.²: Deus, que dizem ter criado a humanidade sua imagem e semelhança, jamais permitiria que alguém fosse julgado e que sua vida fosse tirada apenas por ser diferente dos demais. Talvez esse seja seu maior teste: a aceitação do diferente.<br />
P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!</div>
Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-27851487246076572702011-08-21T02:37:00.000-03:002011-08-21T02:37:35.093-03:00O Fim - Relato<div style="text-align: justify;">Não é nada fácil lidar com a certeza da morte, não é mesmo? Saber o dia exato em que eu, você e todos no planeta vão morrer é de enlouquecer qualquer um. Anteontem, na TV, nos foi noticiado que o mundo encontraria seu fim em três dias, que é o tempo necessário para que a Nuvem do Caos, como foi apelidada, chegasse à Terra. Na hora, achei que fosse alguma piada de muito mau gosto, mas desisti de achar isso quando me toquei de que era o presidente nos dando essa chocante notícia.</div><div style="text-align: justify;">Logo após o pronunciamento do excelentíssimo, as emissoras vincularam alguns programas explicando sobre essa catástrofe e, mais tarde naquele mesmo dia, uma mensagem de adeus que é transmitida em todos os canais até hoje e o mundo mergulhou no mais profundo caos. Alguns vizinhos saíram gritando na rua, outros choraram, uns até mesmo comemoraram! À noite, todos estavam na rua bebendo, brigando, transando, se matando, saqueando bares e mercados. Apenas me tranquei em casa e dormi. Fiz isso duas vezes.</div><div style="text-align: justify;">Hoje é a véspera do meu fim, do seu fim e do fim de toda humanidade. Vou pegar uma garrafa de uísque do meu pai e vou realizar um sonho: beber e tocar naquele piano que está salão da minha antiga escola. Confesso que não tocarei alegres canções, pois nunca gostei delas. Só espero não estar acordada quando tudo acontecer. Seria péssimo ter que ver aquela nuvem destruindo tudo até chegar em mim. Agora, se me der licença, tenho que ir realizar meu sonho. Aconselho que faça o mesmo, pois não terá uma próxima vez.</div><br />
Relato da jovem de nome desconhecido, protagonista da postagem <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2009/11/o-fim.html">O Fim</a>, de Novembro de 2009.<br />
<br />
P.S.: O fim anunciado causaria a insanidade na maioria das pessoas, atiçaria o lado cruel em tantas outras e a apatia em algumas. Como reagiríamos ao saber do nosso próprio fim?<br />
P.S.²: A "Nuvem do Caos" é aquela disseminada por um hoax de 2006, que teria sido descoberta pela NASA e que tem a capacidade de destruir tudo o que encontra pelo caminho.<br />
P.S.³: Dúvidas? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-59022149754378704882011-08-17T00:57:00.000-03:002011-08-17T00:57:15.377-03:00Frio<div style="text-align: justify;">E o garotinho se viu perdido a beira de um bosque, em meio à nevasca com somente sua capa marrom. O frio penetrava cada vez mais em seu pequeno corpo até chegar aos ossos; era questão de tempo para que tudo chegasse ao fim e mesmo assim, havia um brilho esperançoso em seus olhos miúdos graças ao vento, além da dúvida de como puderam deixá-lo ali, daquele jeito, naquela situação, mas essa questão era prontamente respondida por sua inocente mentalidade "Eu me perdi e estão me procurando! É isso! Eles todos estão logo mais à frente, no final desse caminho próximo ao bosque!".</div><div style="text-align: justify;">Tendo finalmente chegado ao final da estrada coberta de neve, a constatação: Não havia ninguém ali. Havia somente um deserto gelado, escuridão e um aperto no peito. E mais uma vez uma pontinha de esperança: "Errei o caminho! Ou eles estão atrasados... É isso! Vou esperar bem aqui para não nos desencontrarmos!".</div><div style="text-align: justify;">O tempo passou e ninguém apareceu. O frio já havia tomado conta de seu pequeno corpo e o sono mortal estava chegando. Ele então se deitou e fechou os olhos; ainda conseguiu sonhar com todos chegando e levando-o a um lugar quente e aconchegante, mas a imagem logo sumiu e deu lugar à escuridão eterna. Estava tudo finalmente acabado: ali jazia um corpo frio e abandonado à própria sorte, sem, entretanto, perder a esperança.</div><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">P.S.: Quantas vezes já não me senti um pequeno garoto esperançoso em um deserto gelado? </div><div style="text-align: justify;">P.S.²: A inspiração nem sempre aparece após um desabafo tão forte quanto a postagem anterior. Mas aos poucos ela dá seus sinais de que retornará.</div><div style="text-align: justify;">P.S.³: Alguma dúvida? Clique<a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html"> aqui</a> e saiba mais!</div>Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-30795332770677279402011-06-08T01:00:00.001-03:002011-06-09T22:37:09.849-03:00Estranhas Metamorfoses (A Psicodelia de um Coração Partido)Tantas mãos, tantas bocas, tantas faces, todas me agarrando, me tomando para si, me arrancando generosos pedaços, intensos suspiros, arrepios e calafrios em meio a escuridão. Não há mais roupas, nem defesas, nem pudor, sequer há alguma vontade nisso, há apenas o vazio e a sensação de incompleto.<br />
Uma mão rasga-me o peito de dentro para fora; outra mão sai do mesmo lugar e termina de abrir a passagem! Olho para baixo: há apenas uma face risonha e ensangüentada, saída de meu tórax, que lambe os beiços para aproveitar cada gotícula de meu sangue. Agora ela se põe a gargalhar e começa a alargar a passagem para que seu corpo saia. É em vão: está preso a mim! Apenas uma pequena parte consegue se soltar, é o suficiente para que consigamos nos encarar de frente. Há um beijo. Amargo, mas há um beijo! Não há para onde correr!<br />
Movimento inesperado: corpo partido ao meio! Uma das partes se põe a procurar outro peito para habitar, a outra continua dentro de mim, se tornando uma pequena cópia do outro corpo. Mas agora há espinhos perfurando minha carne. Outras mãos, outras faces, outras bocas, outros corpos almejando um espaço destruído apenas para roubar pedaços para remendarem o que já foi destruído por outras mãos, outras faces, outras bocas e outros corpos. Mas aquele pequeno corpo consegue evitar que levem tudo. Ele defende seu espaço, apesar de fazê-lo sangrar mais e mais; logo seus espinhos terão transpassado toda a carne.<br />
Ajoelho-me no chão, apenas uma lágrima possui coragem o suficiente para rolar por cima dos ferimentos, fazendo o ardor tomar conta. Logo as luzes se acendem. Há concreto, vidro, carne, luzes coloridas, faces conhecidas, dinheiro, aconchego. O tempo passa, as cicatrizes ficam, as feridas se vão, os espinhos encolhem.<br />
E aquele meio corpo retorna, destruído, machucado, ensanguentado, mas com força suficiente para romper meu peitoral e voltar ao lar. As luzes se apagam, tudo recomeça; e há apenas um sorriso em meu rosto.<br />
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P.S.: Talvez o caminho mais feliz não seja o mais tranquilo ou o mais belo. Talvez seja aquele que temos mais medo.<br />
P.S.²: Título inspirado na tradução do filme Xtro. Nunca o assisti, mas a tradução de seu título me soou interessante.<br />
P.S.³: Dúvidas? Quer saber quem escreve as postagens do blog? Achou um erro de ortografia e quer avisar? Clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1043956459747554705.post-35148601273926098972011-05-18T01:01:00.000-03:002011-05-18T01:01:28.985-03:00Curta 5: A InvejaUma dama de meia idade, amarrada nua a uma árvore. No começo gritos e esperneios, seguidos da desistência e acomodação. Apenas o silêncio respondia ao apelo cochichado. Quando finalmente decidira recomeçar a fuga, um enorme e faminto urso devorou-lhe da cintura para baixo. A mulher, por milagre ou maldição, sobreviveu mesmo assim, mas já não podia soltar-se das amarras, pois seria alvo fácil para toda sorte de predadores. Ela passou a viver amarrada a essa árvore, observando o mundo ao seu redor e o amaldiçoando por não poder mais desfrutar de sua liberdade. E passou, também, a ter pequenos animais carnívoros a mordiscar suas feridas. Toda sua vida poderia ter sido diferente se ela tivesse se esforçado mais.<br />
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P.S.: A inveja acaba sendo o resultado da acomodação, que nos faz ficar para trás e odiarmos quem não parou por sequer um segundo.<br />
P.S.²: A imagem que me veio à cabeça é bem melhor que essa postagem. Mas gostei do mesmo jeito.<br />
P.S.³: Dúvidas? Quer saber quem escreve as postagens? Então clique <a href="http://guicrubellati.blogspot.com/2010/03/uma-pequena-consideracao.html">aqui</a> e saiba mais!Guilherme Crubellatihttp://www.blogger.com/profile/06042740924900414044noreply@blogger.com0