domingo, 6 de julho de 2008

O Abraço que Sufoca

PRÓLOGO PT I - CRIMINOSO

A vida em casa ja não era mais possível! As brigas entre John e seus pais eram constantes e violentas no sentido verbal. A mãe era submissa ao marido e não ousava se mecher durante as brigas temendo uma represália. O jovem de 22 anos resolveu sair de casa naquela noite mesmo e já deixou avisado que voltaria para buscar suas coisas quando arrumasse uma casa.

Ele era um bom rapaz, mas seu pai extremamente rígido e sua mãe submissa e tola o deixaram amargurado, frio e carente; mas isso foi até bom, pois ele desenvolveu um senso crítico muito bom sobre as pessoas observando seus pais e porque se dedicou a leitura nos momentos em que eles brigavam, como que para fugir de ver a mesma coisa sempre.

Aos 15 ele começou a fumar. Nem ele sabe ao certo como começou, mas acha que foi após a primeira transa, quando viu o maço de cigarros na cabeceira da cama da garota e quis imitar as famosas cenas dos filmes.

Aos 20 ele começou a compor poemas e músicas sobre seus sentimentos, já que não tinha com quem conversar. Aliás, a única pessoa com quem ele conversava era seu tio, irmão de sua mãe! Mas ele virou um alcoólatra insuportável.

Após sua decisão de sair de casa, seu pai o fez prometer que não contaria a ninguém da família sobre as brigas e nem que ele sairia de casa, por ser algo muito vergonhoso a ele. John apenas pensou alto: "vergonhoso é ter o senhor como pai..."


PRÓLOGO PT II - O ÚLTIMO

Anthony era um jovem de 21 anos que tinha tudo para ser o garoto mais popular de sua faculdade: dinheiro, boa aparência, roupas bonitas e um belo carro. Popular ele era, mas por ser humilde e sempre disposto a ajudar seus amigos e conhecidos.

Fazia faculdade de engenharia e estava muito feliz com suas notas e sua situação com o resto da turma. De fato sua vida parecia perfeita para quem o visse somente na faculdade; sua vida familiar era um inferno! A mãe era uma megera e seu pai um paspalho que morria de medo dela, mesmo sendo três vezes maior que a magra e delicada mulher de cabelos loiros, longos e brilhantes. Aquela bela senhora fazia questão de dizer que prefereria mil vezes ter feito o aborto quando descobriu estar grávida de Anthony a aturar um fardo como aquele. Mas ele aprendeu a lidar com a bruxa e levava tudo pelo lado positivo, pois em um ano iria embora daquela casa quando se formasse para morar com um amigo. (...)

O grande dia de ir embora chegou. Era uma noite chuvosa e por isso sua mãe não quis nem levantar da cama para se despedir do jovem. Ele não se importava pois sabia que, ao abrir a porta, a figura de seu amigo vestindo um sobretudo enquanto está encostado no carro esperando-o para ajudá-lo com as malas em meio a chuva iria alivia-lo.

"Olá, John!!"

(Fim do prólogo)


PT I - SIMPLESMENTE UM ENCONTRO.

A vida solitária era tudo o que John havia pedido a Deus - se é que ele acreditou em Deus algum dia- podia chegar a hora que quisesse, com quem quisesse e da maneira que quisesse que ninguem encheria o saco com perguntas cretinas. Mas, depois de um tempo, essa vida começou a entedia-lo, não que ele sentisse falta da convivência com os pais, longe disso! Mas sentia a falta de um amigo que apenas o ouvisse, sem ter a intenção de pedir dinheiro ou sexo em troca.

Resolveu arrumar um emprego na faculdade ali perto, já que ele abandonou os estudos para ajudar o pai na loja de materiais para construção. Lá, na faculdade, ele trabalhava como faxineiro em período literalmente integral, pois fazia muitas horas-extras. Em um dia aparentemente normal, acabou esbarrando em dois jovens do curso de engenharia, Anthony e Carl, e logo ficou amigo dos dois. Mas Carl despertou em John algo inesperado, um misto confuso de tesão, ódio e paixão! Carl parecia corresponder a pelo menos dois desses sentimentos e os dois começaram a ter uma intimidade maior, com olhares que praticamente escancaravam a relação dos dois e com uma postura que desmentia tudo aquilo.

Os dois resolveram contar a Anthony sobre a relação e, para surpresa de ambos, houve um apoio do mesmo com votos sinceros de felicidades e com juras de manter tudo aquilo no mais absoluto sigilo. O casal então resolveu comemorar a ocasião na casa de John ao final do expediente...


PT II - LOUCURA.

Ao chegar à casa, o casal começou a comemoração: carícias e juras de amor eterno por parte de um e o silêncio acompanhado de apalpadas constrangedoras por parte do outro. Não demorou muito para irem ao quarto, deitarem na cama e fazer ali tudo o que tinham vontade desde aquele primeiro encontro. Para um a situação era perfeita, para o outro era a descoberta de uma nova maneira de transar, obter prazer e curtir a noite fria.

No meio do ato, John foi tomado por um ódio e nojo incontraláveis! Várias imagens passaram por sua cabeça desde momentos felizes da infância até àquele momento grotesco. A adrenalina tomou conta, seus olhos estavam vidrados e um sorriso maléfico se fez presente em sua face. Isso tudo só fez com que ele fosse mais fundo na consumação do ato, com mais força, como se quisesse matar o parceiro daquela maneira. Enquanto seu parceiro gemia, seus olhos se encontraram com um lençol dobrado aos pés da cama. Ele o pegou, enrolou e passou pelo pescoço de seu amante, apertando-o com toda a força até ter certeza de que ele estava morto, só assim ele conseguiu ter o verdadeiro prazer! John se trocou, envolveu o corpo no lençol e o levou até um matagal, onde o queimou.

Ele observou o corpo queimar por um tempo, ficou entediado e voltou para casa. Lá ele pensou em cada detalhe e em álibis possíveis para o sumiço do outro rapaz e, antes que pudesse colocar qualquer plano em ação, recebeu um telefonema de seu amigo perguntando se sabia de algum lugar que pudesse morar; John logo ofereceu sua própria casa e ficou de buscar o rapaz em dois dias. A chuva começou a cair e ele resolveu ir à janela fumar e observar cada límpida gota que caia sobre aquela cidade imunda e podre.


PT III - IMPASSE DE PENSAMENTOS.

Aquela noite nunca mais sairia de sua mente, aquele ato proibido causou-lhe grande prazer e, ao mesmo tempo, uma grande preocupação. Como ele esconderia aquilo? Havia alguma maneira de esconder aquele ato para sempre? Talvez não. Aliás, com certeza NÃO! Ele gostava tanto daquilo que já estava pensando em repetir aquilo quantas vezes fossem necessárias, doa a quem doer! Será que deveria? O questionamento já não era a nível de poder, por que ele sabia que nada o impediria, a nível físico, já que ele não contaria nada a ninguém, de realizar essa barbárie novamente.

Estava decidido: na noite seguinte, após a festa de aniversário da avó que completa cem anos, ele iria novamente à caça de uma ou mais vítimas para seu delito friamente calculado. Antes de ir para casa, resolveu encostar o carro para fumar um pouco e observar a chuva cair. Como ele gostava daquele clima chuvoso e frio! Não havia nada mais gratificante do que observar uma noite chuvosa de um lugar que se possa fumar à vontade. E pensar que amanhã terá que ver aquela família egoísta, falsa e cheia de preconceitos quanto a que ele tinha. Claro que a família fazia tudo aquilo que ela mesma repudiava em rodas de fofoca feitas em cada reunião familiar. Além dessa rodinha, ele já previa que seu tio beberia até dormir em algum canto, seus avós não reconheceriam ninguém a seu redor e que o resto ficaria comentando coisas triviais.

O cigarro acabou, já é hora de ligar o carro e ir para casa descansar e pensar na próxima noite criminosa que estava por vir. Mas, antes disso, ele precisaria de um banho, aquele cheiro já começava a irritá-lo.


PT IV - ENTRE A ESPERANÇA E O DESESPERO.

Correr. Tudo em seus pensamentos acabavam na proposta de correr daquele lugar constrangedor e falso! As pessoas ao seu redor não davam a mínima importância a ele e quando o viam ainda tinham a incrível cara-de-pau de sorrir e perguntar se estava tudo bem! Claro que não estava nada bem! Uma vontade de fechar os punhos e enfiá-los bem no meio do rosto daquelas carinhas sorridentes lhe veio naquele momento. O sangue fervia não só por que detestava aquela maldita cena de falsa alegria, mas por que não agüentava mais esconder o crime que havia cometido na noite anterior. Crime esse que trouxe-lhe sensações nunca antes experimentadas.

Ah! Só de imaginar a cara de todos ao ouvirem-no dizer o que fez àquela noite chuvosa e fria já o deixava mais calmo e relaxado. Ele não podia contar nada pois aquele não era o momento oportuno. Apesar de tudo que o estava rodeando, ele ainda deveria manter a pose de bom moço e contar tudo em um momento mais ameno e sem tantas pessoas, assim ele estaria seguro da ira que aquele crime "horrendo" poderia causar, culminando até em sua morte!

Finalmente chegara a tão esperada hora de se despedir! Após despedir-se de seu tio embriagado, ele rumou até seu carro e, ao entrar, sentiu-se finalmente aliviado... Tudo aquilo tinha deixado ele exausto! A chuva caia novamente, dessa vez mais calma. Ele decidiu cumprir o programa para aquela noite.


PT V - O ABRAÇO INTERMINÁVEL: SUFOCADOS ATÉ A MORTE.

Naquela noite chuvosa ele foi pego em flagrante... Enquanto cometia seu ato criminoso, sua mãe abriu a porta e o viu naquela situação. O choque fora tão grande que ela deixou cair a torta de maçã feita especialmente para aquela visita surpresa. Seu pai, após alguns momentos de pura perplexidade, irrompeu em fúria e avançou ferozmente em seu filho. O rapaz tentou se esquivar como pode, mas o homem era enorme e forte, parecia uma muralha, uma verdadeira máquina de destruição. E essa máquina concluiu seu papel; seu filho ja estava agonizando.

A vítima, ao contrário de muitos pensamentos, soltou um horrível grito de pavor com a cena presenciada e , com isso, chamou a atenção da muralha de banha, músculos e pêlos, que não perdeu tempo e avançou sobre aquela pobre alma já fadada a morrer.

"Pobres almas... viveram em pecado e agora pagarão no inferno! Pobre de meu querido filho!", disse a mãe aos prantos; prantos esses de vergonha do filho, não de tristeza - olhando o cadáver de seu filho e ignorando o fato de haver outro corpo a seu lado. Ela se recompôs e saiu com seu marido para fugirem antes que a polícia chegasse ao local e eles tivessem que passar mais um vexame.

Ao lado da cama, sobraram apenas os óculos-escuros do rapaz e o tênis da vítima, intactos. O resto era um caos misto de torta de maçã e sangue...


P.S.: A obra esta completa, finalmente.