segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Silêncio

    A voz, outrora pomposa e rebuscada, foi tornando-se esculachada e grosseira. O corpo, antes esguio e preparado, tornou-se macilento e estático. Os cabelos, dourados e macios, estão se tornando escassos e duros. O sorriso, talvez não tão presente, se faz cada vez mais ausente.
   Os anos passaram, a dor continua, a esperança está lá cintilante como sempre, o arrebatador desespero cresce e se multiplica assustadoramente a cada segundo. Os sentimentos se misturam, criam compostos enegrecidos com suaves fios brilhantes. Tudo é uma enorme bagunça, tudo é crítico, tudo é apenas uma firme ilusão.
     Novas e incríveis gerações surgiram, cada vez mais espertas, cada vez mais interessantes e cada vez mais arrogantes e estúpidas. Os vislumbres do passado distante causam repulsa, fecham a cara, amargam a boca. Não sobrou nada daquele tempo. 
      Tantos devaneios, tantas histórias, tantas vontades guardadas eternamente dentro de uma carcaça que se deteriora com o caminhar dos ponteiros. Os gritos, os ecos, os destroços como estacas a destroçar a essência do que um dia foi um ser humano. Todas essas iguarias insossas armazenadas apenas no núcleo do ser, sem se revelaram ao mundo a não ser através de um olhar que grita por socorro, mas implora pra não ser ajudado. 


P.S.: (...)