domingo, 21 de agosto de 2011

O Fim - Relato

Não é nada fácil lidar com a certeza da morte, não é mesmo? Saber o dia exato em que eu, você e todos no planeta vão morrer é de enlouquecer qualquer um. Anteontem, na TV, nos foi noticiado que o mundo encontraria seu fim em três dias, que é o tempo necessário para que a Nuvem do Caos, como foi apelidada, chegasse à Terra. Na hora, achei que fosse alguma piada de muito mau gosto, mas desisti de achar isso quando me toquei de que era o presidente nos dando essa chocante notícia.
Logo após o pronunciamento do excelentíssimo, as emissoras vincularam alguns programas explicando sobre essa catástrofe e, mais tarde naquele mesmo dia, uma mensagem de adeus que é transmitida em todos os canais até hoje e o mundo mergulhou no mais profundo caos. Alguns vizinhos saíram gritando na rua, outros choraram, uns até mesmo comemoraram! À noite, todos estavam na rua bebendo, brigando, transando, se matando, saqueando bares e mercados. Apenas me tranquei em casa e dormi. Fiz isso duas vezes.
Hoje é a véspera do meu fim, do seu fim e do fim de toda humanidade. Vou pegar uma garrafa de uísque do meu pai e vou realizar um sonho: beber e tocar naquele piano que está salão da minha antiga escola. Confesso que não tocarei alegres canções, pois nunca gostei delas. Só espero não estar acordada quando tudo acontecer. Seria péssimo ter que ver aquela nuvem destruindo tudo até chegar em mim. Agora, se me der licença, tenho que ir realizar meu sonho. Aconselho que faça o mesmo, pois não terá uma próxima vez.

Relato da jovem de nome desconhecido, protagonista da postagem O Fim, de Novembro de 2009.

P.S.: O fim anunciado causaria a insanidade na maioria das pessoas, atiçaria o lado cruel em tantas outras e a apatia em algumas. Como reagiríamos ao saber do nosso próprio fim?
P.S.²: A "Nuvem do Caos" é aquela disseminada por um hoax de 2006, que teria sido descoberta pela NASA e que tem a capacidade de destruir tudo o que encontra pelo caminho.
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Frio

E o garotinho se viu perdido a beira de um bosque, em meio à nevasca com somente sua capa marrom. O frio penetrava cada vez mais em seu pequeno corpo até chegar aos ossos; era questão de tempo para que tudo chegasse ao fim e mesmo assim, havia um brilho esperançoso em seus olhos miúdos graças ao vento, além da dúvida de como puderam deixá-lo ali, daquele jeito, naquela situação, mas essa questão era prontamente respondida por sua inocente mentalidade "Eu me perdi e estão me procurando! É isso! Eles todos estão logo mais à frente, no final desse caminho próximo ao bosque!".
Tendo finalmente chegado ao final da estrada coberta de neve, a constatação: Não havia ninguém ali. Havia somente um deserto gelado, escuridão e um aperto no peito. E mais uma vez uma pontinha de esperança: "Errei o caminho! Ou eles estão atrasados... É isso! Vou esperar bem aqui para não nos desencontrarmos!".
O tempo passou e ninguém apareceu. O frio já havia tomado conta de seu pequeno corpo e o sono mortal estava chegando. Ele então se deitou e fechou os olhos; ainda conseguiu sonhar com todos chegando e levando-o a um lugar quente e aconchegante, mas a imagem logo sumiu e deu lugar à escuridão eterna. Estava tudo finalmente acabado: ali jazia um corpo frio e abandonado à própria sorte, sem, entretanto, perder a esperança.


P.S.: Quantas vezes já não me senti um pequeno garoto esperançoso em um deserto gelado? 
P.S.²: A inspiração nem sempre aparece após um desabafo tão forte quanto a postagem anterior. Mas aos poucos ela dá seus sinais de que retornará.
P.S.³:  Alguma dúvida? Clique aqui e saiba mais!