sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vossa Majestade Virtual

Sentado em seu trono, em frente a uma tela, estava o rei digital. Seu grande poder com a linguagem escrita garantia sempre que seu nome estivesse envolvido em qualquer tipo de evento: desde uma simples conversa entre amigos ao maior dos conflitos entre os habitantes de sua pacata cidade. Não havia dúvidas, ele era alguém que nasceu para comandar! Todos o admiravam sem nem ao menos tê-lo visto pessoalmente, já que ele não deixava seu trono para nada.
Ah! O poder que ele tinha de criar conflitos e, após esquecerem que fora ele quem começou, resolvê-los da maneira mais civilizada possível era de deixar qualquer um boquiaberto! As pessoas faziam tudo que vossa majestade ordenava; ele tinha a capacidade de fazer melhores amigos se separarem e voltarem a qualquer momento, de ditar o que deveria ser vestido, visto, observado, pensado. E ninguém nunca ousou desafiá-lo. Até agora.
Fora do mundo virtual, o rei era só um garoto comum, mimado, egoísta, ciumento e com caráter duvidoso. Possuia poucos amigos, e talvez apenas um amigo de verdade. E esse amigo resolveu se envolver com alguém, também conhecido do rei. Pobre rapaz, o inferno se instalou na vida do casal, mas não durou muito, o rei se sentiu pressionado e acabou cedendo. Por um tempo. Suas atitudes mudaram e aos poucos ele começou a usar de seu reinado no mundo digital para atormentar e tentar colocar seus súditos contra esse relacionamento traiçoeiro. Alguns ficaram contra, o resto apoiava. Pois que o rei caçou cada mínimo detalhe dos outros traidores para colocar seus fiéis súditos contra essas pessoas. Funcionou. Por um tempo.
Acontece que, dentre os apoiadores, estavam duas pessoas próximas tanto do rei, quanto de seu amigo e, principalmente, de seu "alguém"! Juntas, essas três pessoas seriam imbatíveis! Eram a trindade demoníaca, segundo o rei. Mas, mesmo assim, ele tentou colocar um contra o outro atacando a uma terceira pessoa. Um plano confuso e audacioso. Dessa vez o inferno se fez presente na vida dessas pessoas, os súditos riam delas, espalhavam boatos maldosos e denegriam a imagem de cada um. A trindade parecia finalmente abalada.
Os três estavam esperando o melhor momento quando o rei declarou que toda essa confusão deveria ser resolvida dali a quatro dias com uma conversa franca e pessoal. Seria como uma grande mesa redonda, onde todos debateriam o ocorrido e acertariam suas diferenças. Um dos membros da trindade resolveu tentar convencê-lo a conversar com ele diretamente em seu mundo; mas seu pedido foi negado com sarcasmo e ironia. E isso realmente o irritou. A batalha não seria no mundo virtual e nem dali a quatro dias, seria no mundo real e naquele exato momento! Envolto em fúria, se locomoveu ao castelo e enfrentou o rei em uma batalha que deveria ser épica, mas se revelou uma covardia! O rei só tinha poder em seu mundo virtual; no mundo real, não passava de uma criança fraca, confusa, débil e carente de atenção que foi facilmente derrotada.
Não bastasse a primeira derrota, o rei ainda fora derrotado mais duas vezes naquele mesmo dia! A trindade o humilhou, destroçou, mostrou que realmente tinha um poder verdadeiro: a real amizade entre seus membros. A notícia logo se espalhou: o rei era uma farsa! Não possuia poder algum a não ser aquele que as pessoas achavam que ele tinha! Os súditos se revoltaram e depuseram aquele impostor que até então governava suas vidas. Sem súditos ou amigos, o impostor se trancou em seu castelo e tentou reerguer seu império sem sucesso. Só lhe sobraram as palavras cheias de superioridade, que não eram ouvidas ou lidas por ninguém.

P.S.: Um texto aleatório. Seu conteúdo funciona melhor em lugares que tenham acesso ao reino virtual, de preferência pequenos lugares.
P.S.²: Poucas são as pessoas capazes de encarar a responsabilidade de ter uma opinião marcante fora do reino virtual e, além disso, ainda serem capazes de defender essas opiniões de maneira civilizada, respeitando o espaço do outro.
P.S.³: Desabafo de tudo que já aconteceu na vida desse autor, desde os primórdios de sua inclusão no reino virtual até a atualidade. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. O autor já assumiu o papel de rei em um passado distante e obteve o mesmo destino.
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Maior Espetáculo Já Visto!

Era mais uma noite normal de apresentações naquele famoso circo instalado no coração da cidade. A platéia adulta assistia a tudo envolta em um sentimento misto de encantamento e nostalgia, relembrando a época em que foram ao circo pela primeira vez ou então quando foram com alguém especial. A platéia das crianças possuia olhares encantados e bocas abertas de felicidade. A dos adolescentes dispunha apenas de poucas pessoas, a maioria só estava ali pela falta do que fazer e ficava mais conversando e tirando sarro do que gostando das apresentações em si.
A hora mais esperada por todos chegou: os palhaços! Mas algo estava fora do normal; as cortinas não se abriram ao anúncio do número dos palhaços. O apresentador resolveu verificar o que estava acontecendo lá atrás. Com a incrível demora, alguns adolescentes e adultos foram embora, o resto achou que tudo não passava de uma brincadeira característica do espetáculo. As cortinas se moveram, finalmente. Todos aguardavam ansiosos. Um grunhido se fez ouvir, seguido de um urro de dor. Alguém saiu de trás das cortinas correndo, o corpo todo ensanguentado. Logo atrás um palhaço pulou sobre o homem, derrubando-o no chão, e começou a mordê-lo, arrancando generosos pedaços de carne de suas costas.
O terror da cena fez com que houvesse um grande tumulto, todos queriam sair o mais rápido possível. Muitos foram pisoteados. O palhaço, após terminar seu número, apenas olhou para frente e observou o alvoroço com um sorriso psicótico. Um garotinho, escondido embaixo da arquibancada de madeira, congelou ao ver a assustadora aparência daquele que deveria fazê-lo rir: cabelos vermelhos, rosto branco, sombra preta ao redor dos olhos, boca com pintura azul e dentes amarelados, tortos. Tudo isso e o sangue de suas vítimas.
O psicopata levantou e saiu em direção à algazarra. O garoto ficou estático em seu esconderijo. Sorte daqueles que saíram antes, conseguiram algumas horas a mais de vida. Aquela pacata cidade nunca mais será a mesma.