quarta-feira, 8 de junho de 2011

Estranhas Metamorfoses (A Psicodelia de um Coração Partido)

Tantas mãos, tantas bocas, tantas faces, todas me agarrando, me tomando para si, me arrancando generosos pedaços, intensos suspiros, arrepios e calafrios em meio a escuridão. Não há mais roupas, nem defesas, nem pudor, sequer há alguma vontade nisso, há apenas o vazio e a sensação de incompleto.
Uma mão rasga-me o peito de dentro para fora; outra mão sai do mesmo lugar e termina de abrir a passagem! Olho para baixo: há apenas uma face risonha e ensangüentada, saída de meu tórax, que lambe os beiços para aproveitar cada gotícula de meu sangue. Agora ela se põe a gargalhar e começa a alargar a passagem para que seu corpo saia. É em vão: está preso a mim! Apenas uma pequena parte consegue se soltar, é o suficiente para que consigamos nos encarar de frente. Há um beijo. Amargo, mas há um beijo! Não há para onde correr!
Movimento inesperado: corpo partido ao meio! Uma das partes se põe a procurar outro peito para habitar, a outra continua dentro de mim, se tornando uma pequena cópia do outro corpo. Mas agora há espinhos perfurando minha carne. Outras mãos, outras faces, outras bocas, outros corpos almejando um espaço destruído apenas para roubar pedaços para remendarem o que já foi destruído por outras mãos, outras faces, outras bocas e outros corpos. Mas aquele pequeno corpo consegue evitar que levem tudo. Ele defende seu espaço, apesar de fazê-lo sangrar mais e mais; logo seus espinhos terão transpassado toda a carne.
Ajoelho-me no chão, apenas uma lágrima possui coragem o suficiente para rolar por cima dos ferimentos, fazendo o ardor tomar conta. Logo as luzes se acendem. Há concreto,  vidro, carne, luzes coloridas, faces conhecidas, dinheiro, aconchego. O tempo passa, as cicatrizes ficam, as feridas se vão, os espinhos encolhem.
E aquele meio corpo retorna, destruído, machucado, ensanguentado, mas com força suficiente para romper meu peitoral e voltar ao lar. As luzes se apagam, tudo recomeça; e há apenas um sorriso em meu rosto.


P.S.: Talvez o caminho mais feliz não seja o mais tranquilo ou o mais belo. Talvez seja aquele que temos mais medo.
P.S.²: Título inspirado na tradução do filme Xtro. Nunca o assisti, mas a tradução de seu título me soou interessante.
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