quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma Noite Qualquer

Após um dia de muitas brincadeiras (boas ou nem tanto), lá estava César em sua cama, dormindo. Era um dos únicos momentos na qual era possível vê-lo tão sereno: à noite, na hora de dormir. Seus olhos fechados, respiração profunda, imaginação funcionando aleatoriamente e pegando momentos já vividos, pessoas já vistas e misturando tudo em histórias das mais diversas. Fora do horário de dormir, o garoto não era tão sereno. Ele já fez muitas pequenas maldades. A maioria deixava todos indignados, como na vez em que colocou uma bombinha de considerável potência dentro de um filhote de gato e assistiu rindo o momento da explosão.
Sua mãe, que fora criada em meio a cinco irmãos arteiros, achava aquilo até certo ponto normal, afinal, já aprontara das suas também e achava que aquilo tudo era apenas uma fase. Já seu pai, apesar de ter sido um pouco arruaceiro quando adolescente, achava aquelas atitudes muito malévolas para uma criança tão nova - César possui apenas 8 anos - e, para tentar fazê-lo parar de ser cruel, já fez de tudo: desde conversas amistosas até uns belos tapas. Nada deu certo. Resolveu tentar algo mais infantil e contou a história do homem do saco; o filho só fez rir e ficou ainda pior. Quem poderia imaginar que um garoto que dormia tão sereno fosse tão cruel?
César, apesar das encrencas em que se metia, gostava de ter seu quarto sempre arrumado e passava a maior parte do tempo livre nele. Era um quarto aconchegante com uma enorme janela por onde entrava razoável quantidade de luz solar e ficava completamente iluminado pelo luar que banhava sua cama. Luar esse que o fazia dormir como um anjo. E era assim que ele estava no momento.
Enquanto dormia, seu quarto era tomado por uma suave neblina enegrecida que foi se juntando ao redor da cama e, após algum tempo, tomou forma de uma criatura magra e encapuzada que se posicionou ao pé da cama. Tal criatura mais parecia uma sombra encapuzada, lembrava as descrições que as pessoas faziam da morte, mas não possuía um esqueleto por baixo dos trapos que formavam sua capa, apenas uma figura tão obscura quanto uma sombra. E esse estranho ser arrastava consigo algo que se assemelhava a um enorme e pesado saco feito de trapos negros e esvoaçantes que não hesitava em se mexer ferozmente, como se algo quisesse escapar dali.
A criatura ficou imóvel ao pé da cama por alguns momentos, como se estivesse analisando o garoto por algum motivo, mas logo arrastou o saco para mais perto da cama e, de imediato, alguns pedaços do trapo começaram a tomar forma de pequenas mãos negras e se esticaram em direção a César. As mãos passaram por suas pernas e logo entraram pela bermuda do garoto que, ao sentir a estranha sensação de estar sendo invadido, olhou para trás, se assustou com a criatura e tentou gritar e se arrastar para fora da cama. Tarde demais! As pequenas mãos começaram a sair por sua boca e a fazer o caminho de volta para perto da aparição, envolvendo todo o garoto em trapos negros que se moviam em desespero.
O estranho ser então puxou o saco de volta para próximo de si, levantou-o e jogou-o para trás afim de poder arrastá-lo e finalmente ir embora. E assim o fez. Foi-se dirigindo à janela e voltou a forma de neblina para rapidamente desaparecer levando mais um garoto de coração negro. A lenda da qual desdenhou veio ensiná-lo uma lição. Mas somente César a aprendeu, os outros jamais saberão.


P.S.: Lendas antigas e esquecidas retornam em uma noite qualquer para seu devido lugar no imaginário doentio das pessoas.
P.S.²: Um tanto quanto clichê, mas gostei muito de imaginar essa cena!
P.S.³: Alguma dúvida sobre o blog? Clique aqui e saiba mais!

2 comentários:

Isolda disse...

Isso não é homem do saco, é um dementador!
E um dementador pedófilo, aliás!


KKKKKKKKKKKKKKKK
Enfim, eu adorei a forma como tu abordou a lenda ai.
Digo, repito e vou te encher o saco até tu escrever um livro! Adoro a forma como tu descreve as coisas.


Bjão, quereeds! Amo-te!

FOX EQUIPE! disse...

ta top mano! concordo com a Isolda... abraço!