sábado, 7 de julho de 2012

Última Parada

E o ônibus se aproxima de sua última parada antes de chegar ao seu destino final. Todos os passageiros começam a acordar, coçar os olhos e enfileirar-se no estreito corredor para finalmente irem ao banheiro e esticar um pouco as pernas após algumas horas de viagem pela madrugada. Mas algo não estava normal: uma pequena multidão se aglomerava ao redor de um ônibus mal estacionado em sua vaga. Uma mulher gritava desesperadamente e era amparada por funcionários do famoso posto à beira da estrada. E logo o motivo ficou visível a todos daquele recém-chegado ônibus: havia um corpo estirado entre o veículo mal estacionado e a sarjeta de sua respectiva vaga.
Ao descer, a maioria dos passageiros se reuniu à curiosa, e cada vez maior aglomeração para ver o desfigurado defunto. Mas a fúnebre alegria durou pouco, pois logo as equipes de resgate e os policiais chegaram para averiguar o ocorrido e, obviamente, dispersar os urubus de cima da carniça fresca (como dito por um dos socorristas). Após alguns instantes, a maioria dos curiosos foi dispersada, o corpo foi coberto e os policiais começaram a coletar informações com as testemunhas uma a uma. 
Os passageiros do até pouco tempo ônibus recém-chegado começaram a reembarcar normalmente após os costumeiros vinte minutos de parada quando uma senhora, lá do final da fila, começou a gemer de medo e apontar em direção ao corpo coberto. Todos pararam e levaram as mãos à boca ao vislumbrarem a bíblica cena do corpo que retorna do mundo dos mortos. Por alguns instantes acreditaram se tratar de um milagre, mas logo perceberam que era a própria visão do apocalipse: o corpo ressurreto grunhiu ferozmente e avançou em direção a uma das testemunhas, mordendo-lhe e arrancando-lhe um grande pedaço de seu rosto! Os policiais então o agarraram e o forçaram a soltar a testemunha, mas ele não pode ser contido e começou a avançar em direção a uma jovem que estava próxima ao banheiro. Ambos, corpo e jovem, correram para dentro do banheiro e para fora da visão dos embasbacados passageiros.
A garota, em um estranho reflexo de seu pavor, correu com o corpo virado para aquela assustadora criatura e, ao topar com um balde, caiu sentada no frio e molhado piso. Antes mesmo que pudesse descobrir do que o piso estava molhado, o ensanguentado e enfurecido morto vivo lançou-se para cima da jovem, com suas mãos sempre à frente para garantir que sua presa não fuja. Ela tentou impedir o avanço dos destroçados dentes com força total, mesmo sabendo que não seria suficiente. Os dentes estavam conseguindo chegar cada vez mais perto de seu suave pescoço. Ela fechou os olhos para sua última prece. E um estrondo se fez ouvir naquele ambiente imundo. E o corpo estava novamente sem vida. E uma voz arrogante se fez ouvir:
- Então é assim que isso vai começar? Um atropelado correndo atrás de uma garotinha? Você ai de cima, e você ai de baixo: esperava algo melhor vindo de vocês para um apocalipse! 
Quando finalmente abriu os olhos e removeu o gélido cadáver de cima de seu belo corpo, a jovem não conseguiu localizar seu salvador, só alguns curiosos se aglomerando cada vez mais na porta do banheiro para tentar entender a situação. Mas todos ali, sem sequer trocar uma palavra, sentem que aquilo era só o começo de algo que os colocaria em grande perigo.

P.S.: E assim o mundo caminha em direção ao juízo final! Os mortos levantam de suas tumbas e julgam quem deve ou não permanecer realmente vivo, ou seja, nenhum de nós! Nos vemos na Igreja dos Mortos-Vivos para uma última oração.
P.S.²: Um assunto tão desgastado que rende inúmeras histórias. Me rendo à ressurreição dos putrefatos.
P.S.³: Dúvidas? Clique aqui e saiba mais! 

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